Após o enorme sucesso do Sydner Cut nos serviços de streaming, o idealizador do Universo Dc nos cinemas retorna agora com uma nova história, com novos personagens e, mais interessante de tudo, com um novo universo compartilhado. Army of The Dead se passa após uma séria epidemia zumbi na cidade de Las Vegas que culminou em uma fracassada tentativa de eliminar os infectados via bombardeio. A cidade então é cercada, contendo assim todos os infectados lá dentro. Um seleto de grupo de soldados, atiradores e pessoas com habilidades peculiares é então enviada para implantar bombas dentro da cidade, acabando de vez com o lugar. Em troca, eles têm direito a todo o dinheiro abandonado no cofre do hotel mais luxuoso da cidade.
O filme é protagonizado por Dave Bautista, conhecido por interpretar Drax nos filmes da Marvel. Ele incorpora aqui um veterano da batalha de Las Vegas, solitário pela morte da esposa e por não mais ter contato com a filha. O ator, que é ex-lutador de MMA e limitava sua carreira cinematográfica a papéis pouco exigentes em termos de atuação, têm aqui a oportunidade de se reinventar. O início do filme dá a entender que um suposto arco dramático estava prestes a acontecer entre o protagonista e sua filha, que acaba também participando da missão. É justo falar que o ator até se esforça para entregar algo digno, mas infelizmente o roteiro não permite nada disso.
Como toda boa história de Zack Snyder, essa é também repleta de simbolismos relacionados à religião, o que dá uma carga muito maior para algumas cenas, que são inclusive muito bem executadas. Porém na maioria das vezes isso não significa tanta coisa assim. Apesar do filme ter um caminho claro pelo qual pretende seguir, e inclusive faz isso honestamente, o roteiro como um todo é incapaz de aproveitar o potencial que existe ali. O personagem de Dave Bautista sequer tem a chance de brilhar em questão de drama, e o próprio filme de início se propõe a colocar ele nesse lugar. Seu relacionamento com a filha é completamente esquecido ao longo da trama, sem contar que ela mesma não passa de uma figurante. A clássica ideia de uma jovem frágil que precisa ser salva e, por via de regra, não contribui nada para a história. Outros casos escancarados de desperdício de personagens estão no próprio grupo que realiza a missão. Um dos membros por exemplo é logo de início apresentado como um bad ass extremamente apegado à sua motosserra, a qual ele usaria à rodo na luta contra os zumbis. Apesar de protagonizar boas cenas, ele sequer utiliza a motosserra no filme. Ou seja, ficamos carentes de ver um personagem desempenhando exatamente o papel ao qual foi destinado a cumprir. Outro exemplo é uma espécie de YouTuber que ficou famoso por sua habilidade ímpar com armas de fogo. Quando convocado para a equipe, ele se mostra um personagem carismático, coisa que até se mantém ao longo do filme. O problema é que ele praticamente não utiliza a habilidade com armas. Nós praticamente não temos nada nesse sentido. Eu poderia citar aqui vários outros, como o especialista em arrombar cofres, que arromba o cofre da forma mais simples e direta possível no filme sem desenvolvimento algum, mas assim a lista englobaria quase todos os personagens do filme. Enquanto Zumbilândia, uma produção também atual que mistura comédia com ação, é mestre em explorar o potencial de seus personagens e criar cenas criativas de ação, Army of The Dead tem um roteiro bagunçado é incapaz de fazer o óbvio.
Em contrapartida, Zack Snyder apresenta aqui algo inovador no gênero de zumbi. Enquanto a maioria das produções mais famosas trabalham com zumbis lentos, burros e irracionais, Army of The Dead tem uma proposta bem diferente. Existem basicamente dois tipos de zumbis, os normais e os Alfas. Os normais não se diferem tanto dos que vemos em The Walking Dead ou Madrugada dos Mortos. Já os Alfas são inteligentes, conscientes de suas ações e possuem um forte instinto fraternal. É muito interessante ver como eles constituem uma espécie de tribo extremamente organizada dentro dos muros de Las Vegas. A última vez que me lembro de ter visto algo similar sendo aplicado a zumbis nos cinemas foi no filme Eu sou a lenda (2007), e ainda assim a produção de Snyder o supera nesse sentido.
Army Of The Dead vem com uma ideia interessante, trazendo personagens promissores e com sucesso em deixar o espectador preso na trama. Toda a parte visual é muito bem executada, não foram poupados recursos para proporcionar uma experiência imersiva. Não restam dúvidas de que Zack Snyder fez algo que ainda se destacará por muitos anos entre a grande massa de filmes de zumbi. Mas infelizmente é muita forma e pouco conteúdo. O filme sequer entrega o mínimo de desenvolvimento de personagens e desperdiça grandes oportunidades de construir relações emocionais sólidas. Com a faca e o queijo em mãos, Zack Snyder jogou fora a chance de fazer algo narrativamente descente que marcaria sua volta triunfal aos cinemas após sair dos planos da Dc Comics.
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