“ Eu amo a paz com todo o meu coração. Não importa quantos homens, mulheres e crianças eu tenha que matar por isso. ” – Christopher Smith.
James Gunn pega a frase de seu sensacional “O Esquadrão Suicida” e a transforma no principal arco narrativo de “Pacificador”, conduzindo e o expandido com uma maestria invejável.
“Pacificador” é uma série que se passa imediatamente depois dos acontecimentos do filme citado acima, novamente acompanhamos o “escoteiro debilóide” em uma missão secreta com uma equipe montada por Amanda Waller. John Cena mais uma vez brilha no papel, entregando a melhor atuação de sua carreira. Ele definitivamente não é apenas um brucutu. O coração presente no roteiro da série brilha e se eleva com a atuação de Cena que não apenas tem um excelente timing cômico, mas também carrega uma forte dose de drama que nunca se excede entregando uma junção muito orgânica de elementos. “O Pacificador” é humano, um personagem complexo e cheio de camadas, vemos uma profunda exploração disso ao longo dos oito episódios de forma ora sutil ora não sutil. John Cena definitivamente encontrou o papel de sua vida. Os elogios, no entanto, não se reservam apenas a ele porque novamente temos um elenco competente e bem dirigido. Começando por Freddie Stroma em uma atuação e papel sensacional como o Vigilante, “o terceiro melhor amigo do Pacificador”, Stroma esbanja carisma e timing cômico mesmo que caia em alguns excessos, há algo de muito sensível e “inocente” no insano personagem e sua atuação entrega isso. Um personagem difícil de não se apegar.
Jennifer Holland como Harcourt e Steve Agee como Economos são outros dois atores cheios de carisma, seus personagens recebem um aprofundamento muito maior que no filme anterior ganhando espaço para brilharem. Um dos diálogos do personagem de Steve Agee no episódio final, inclusive, é muito tocante. Danielle Brooks como Adebayo e Chuk Iwuji como Murn fecham o time cheio de carisma e química, também possuindo um arco muito interessante ao longo da série. Nhut Je como Judomaster, Annie Chang como Sophie Song e Robert Patrick como Auggie Smith (o pai do Pacificador) também são destaques fechando o núcleo de antagonistas.
Diferente de outras séries de super-herói como as séries da Marvel do ano passado, Falcão e o Soldado Invernal, Loki e outras, Pacificador realmente parece pensado como uma série de TV e não um filme expandido como é o caso dessas séries. Ao longo dos oito episódios temos uma evolução narrativa e uma expansão onde cada personagem ganha seu momento para brilhar. Além disso, do primeiro até o último episódio, temos a psique do protagonista sendo explorada ao ponto dele terminar a série com uma evolução moral definitiva. Construindo assim uma costura orgânica entre os episódios. Os conflitos evoluem, a trama anda e se encerra sem pontas soltas.
Porém, nem tudo é perfeito. O primeiro episódio intitulado “Um novo turbilhão”, dirigido pelo próprio Gunn, não tem muito ritmo, servindo apenas como uma introdução a série. Ele só consegue engatar nos seus momentos finais. Outro episódio problemático é “O Que os Olhos Não Veem o Dragão Não Sente”, o penúltimo episódio. Onde a trama de Auggie Smith (o pai do Pacificador, o Dragão Branco) encontra sua conclusão. É um episódio anti-climático no mínimo para uma série que investiu tanto no pai do Pacificador que parecia um personagem extremamente promissor, com um visual e contexto interessantes, mas que no fim não representa qualquer ameaça para os protagonistas. A conclusão é abrupta, mal dirigida (Brad Anderson dirigiu este), e é extremamente afetada pelo humor do Vigilante perdendo qualquer tipo de tensão e arruinando o drama entre pai e filho.
“Pai e filho”, aliás, é uma repetição temática recorrente dentro da carreira de Gunn. Tendo sido explorada em Guardiões da Galáxia Vol.2, o próprio O Esquadrão Suicida, e agora neste. Não é um defeito, longe disso, porque apesar da conclusão fraca aqui a temática é sim muito bem trabalhada durante os episódios. Algumas outras repetições nem tanto, como a ameaça alienígena de mente coletiva ( assim como era Starro ) que está longe de ser ruim, afinal, acrescenta aos conflitos morais do protagonista, mas não se tornam vilões marcantes. O saldo que fica é que mesmo errando em um ou outro ponto, nenhum defeito dentro da visão de Gunn compromete o resultado final, mostrando que seu roteiro é muito bem escrito. Outro acerto é a direção que brilha em todos os episódios onde o diretor assina, outras contribuições como de Jody Hill no quarto episódio e Rosemary Rodriguez no quinto, merecem elogios. Brad Anderson no penúltimo episódio, é o único diretor que peca nesse quesito.
“ Pacificador ” de James Gunn é mais um acerto do diretor/roteirista que pega um personagem detestável e não apenas o explora em todas suas camadas como também nos faz nos importar por ele e todo seu universo. John Cena brilha no papel de sua carreira em uma série cheia de coração, Rock ‘n’ Roll, humor de quinta série, e sangue!!!
Nota: 9,0