Pânico (2022) | Crítica – sem spoilers

 

 

 

 

                                                 “ Qual é o seu filme de horror preferido? ” –  Ghostface.


Requels. É o termo recém-batizado para a nova moda de Hollywood: as retomadas de franquias antigas que ao mesmo tempo que celebram a nostalgia e personagens clássicos, apresentam novos personagens para levar a “tocha” adiante. Essa fórmula tem feito bastante sucesso principalmente com exemplares como o Halloween de 2018, Star Wars – O Despertar da Força e Jurassic World. Ainda em 2011, Pânico 4 tinha planos para fazer algo semelhante (antes dos exemplos citados), mas em algum momento da produção o filme se tornou muito mais uma retomada da franquia com uma conclusão sem pontas soltas para sequências. 

 

O tempo passou e o pai da franquia e celebrado diretor, Wes Craven faleceu deixando novas sequências da franquia em uma incerteza. Porém, um quinto filme da franquia foi anunciado com a dupla de diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett ( responsáveis pelo filme “Casamento Sangrento ”) e aqui nós estamos. 

 

Pânico de 1996 dirigido por Wes Craven e roteirizado por Kevin Williamson, é inegavelmente um marco do gênero de horror, um respiro em meio a tantas sequências de franquias consagradas de slashers. Tem uma direção sólida, tem uma deliciosa brincadeira de metalinguagem e até hoje sobrevive em um lugar especial dentro do subgênero e isso não é surpresa para ninguém. No entanto, seria possível hoje em 2022 uma sequência dessa franquia conseguir repetir o mesmo feito? ainda mais sem o pai da franquia estar envolvido? E para surpresa de muitos, sim. O quinto filme ou melhor… O Pânico de 2022 consegue e com muito louvor. 

 

Já na ótima e brutal sequência inicial somos apresentados a um caminho bastante familiar, mas que quebra nossas expectativas o que define bem como será esse novo filme. Estamos diante de um longa que ao mesmo tempo que celebra a nostalgia, brinca com a metalinguagem e subverte expectativas já criadas pelos anteriores. O primeiro mérito está no roteiro assinado pela dupla James Vanderbilt e Guy Busick que possui um olhar muito atento para nossa cultura pop atual e traça comentários válidos sobre fandom (fã-clube) tóxico e fanático, como já vimos acontecer seja em ameaças de morte ao elenco atual de Star Wars ou em movimentos radicais como o #RestoreSnyderverse que tenta boicotar lançamentos atuais do estúdio Warner Bros. e que não respeita nem mesmo a vontade de atores de se recusarem a voltar para papéis antigos como acontece com Ben Affleck e a hashtag #MakeTheBatfleckmovie. Todo esse comentário, é claro, fazendo um paralelo com a franquia “Stab” que é uma franquia dentro de uma franquia. Metalinguagem… que delícia!

 

Além dos comentários ácidos e válidos, temos a apresentação de um novo elenco de personagens que é muito carismático. As irmãs Sam e Tara, interpretadas por Melissa Barrera e Jenna Ortega, possuem um texto bom, boas motivações e uma reviravolta muito interessante. Jack Quaid como Richie também é um destaque ao lado de Mikey Madison como Amber (Que brilhou literalmente nos momentos finais de Era uma vez… em Hollywood). Em geral, todo o elenco de personagens novos funciona aliado ao bom texto. Mas é claro que a nostalgia tinha que marcar presença e temos os retornos de Neve Campbell como Sidney, Courteney Cox como Gale e David Arquette como Dewey, sendo esse último o melhor retorno do trio consagrado. O espaço de tela de todos eles são bem divididos e em momento algum ofuscam o elenco novo, criando assim um equilíbrio quase-perfeito pouco visto nesses recentes requels. Outro retorno, dessa vez do quarto filme, é Marley Shelton como Judy que tem uma presença muito forte e marcante. 

Reservando o melhor para o final, Ghostface retorna com glória (obviamente vocês terão que descobrir a identidade dele no cinema) que ainda é o mesmo assassino atrapalhado durante as perseguições, mas que aqui está mais brutal do que nunca. E neste ponto a direção brilha, cada facada do vilão tem um peso aliado pela direção e mixagem de som. As mortes são as mais brutais de toda a franquia e algumas realmente chocam trazendo um tom mais sombrio e que não flerta tanto com o humor como em algumas sequências anteriores. Além da brutalidade, a direção e os enquadramentos conseguem trazer muito do cinismo vindo da figura do Ghostface. Criando assim a melhor versão do vilão mascarado em toda a franquia. 

Talvez o maior problema do filme se resida em alguns poucos momentos do terceiro ato que mesmo traçando um comentário sobre metalinguagem acaba caindo no previsível e raso, mas nada que comprometa tanto o longa. Porém, com o rumo em que ele estava indo, um terceiro ato mais ousado e imprevisível poderia ter sido uma escolha mais acertada. Ainda assim,  é nessa problemática sequência final onde a nostalgia brilha de verdade.

Outro defeito que a vale a pena ser ressaltado é a trilha sonora assinada pelo compositor Brian Tyler que falha em criar qualquer tipo de atmosfera e acaba caindo no genérico. Por sorte, a direção, o texto são sólidos demais para perderem o fôlego nas sequências mais tensas e brutais. Impedindo assim que a trilha comprometa tanto.

O Pânico de 2022 é uma requel de fazer inveja. Tem comentários novos a fazer, é sombrio, é brutal e encontra um equilíbrio perfeito entre celebrar a nostalgia e apresentar algo novo. O legado de Wes Craven e Kevin Williamson está em boas mãos. 

                                                                            Nota: 8,5/10

 

Sair da versão mobile