The Batman finalmente está entre nós e seu sucesso é unânime. Enquanto o filme é elogiado por crítica e público e acumula bons números na bilheteria, muito é discutido sobre o respiro que Matt Reeves trouxe para o personagem nas telonas e embora muito do filme venha da visão firme do diretor, é inegável as várias influências presentes na trama, estas que desde o início da produção eram comentadas e que agora podemos ver em tela.
Neste texto que conterá spoilers , obviamente , irei mergulhar nas influências do diretor e como elas são exploradas ao longo da trama do filme.
“ Batman: Ego ” de Darwyn Cooke
Desde a DC Fandome de 2020 Reeves fala abertamente sobre a influência desse quadrinho na construção do Batman de Robert Pattinson e sua jornada ao longo do filme. Após assistir, é perceptível como o arco do Batman segue perfeitamente o arco apresentado no quadrinho que trata sobre a psicologia do personagem em conflito e o debate vingança X justiça. Começamos com um Cavaleiro das Trevas se auto intitulando que é a “vingança” e ao decorrer da trama começa a perceber os impactos negativos que isso causa tendo como Charada o maior reflexo disso. No clímax, Batman abandona o título de “vingança” e guia de forma simbólica as vítimas da enchente ou melhor do… “dilúvio” se firmando como um verdadeiro símbolo de justiça e esperança para toda a população, o que é extremamente semelhante a essência do quadrinho “Ego”. No quadrinho a diferença está na trama mais intimista que pega um Batman um pouco desiludido de suas ações como vigilante e o seguimos em um debate interno até no final ele perceber que pode ser um símbolo de esperança para Gotham City.
Embora hajam diferenças, a essência da história de Darwyn Cooke, a reflexão e mensagem que ela traz é fielmente adaptada e respeitada. Dando uma camada única a essa versão live action do Morcego em The Batman.
O Longo Dia das Bruxas/ Vitória Sombria
Também citado anteriormente como uma das influências de Reeves, as semelhanças com essa história escrita por Jeph Loeb (curiosamente o mesmo professor de roteiro de Reeves) e desenhada por Tim Sale já podem ser vistas logo no início do filme. Assim como em The Batman, o Longo Dia das Bruxas também gira em torno de uma série de assassinatos que tem início no Halloween. Além disso, a amizade entre Gordon e Batman é um dos pontos mais importantes da história. Outra influência está na Selina Kyle que tanto no quadrinho quanto no filme tem uma subtrama que gira em torno do suposto parentesco dela com Carmine Falcone. Uma subtrama que se estende para o quadrinho Vitória Sombria, mas que diferente do longa live action deixa as respostas em aberto.
Outra referência vinda diretamente das páginas de O Longo Dia ocorre quando Falcone encontra Bruce Wayne e menciona que Thomas Wayne salvou sua vida fazendo uma cirurgia às pressas na mesa de jantar da Mansão Wayne enquanto Bruce assistia. Um acontecimento muito importante para o cânone do Homem-Morcego e também, dentro da trama do quadrinho.
Mais uma vez, o filme pega duas influências de quadrinhos consagrados e consegue trabalhar bem respeitando a essência do material base e adicionando mais camadas aos personagens.
Batman: Terra um
A releitura da origem do Batman e seu universo escrita por Geoff Johns e Gary Frank é uma influência nunca mencionada pela produção do filme, mas que é notável em diversos elementos. Começando pela figura do Alfred como chefe de segurança da família Wayne, ostentando o mesmo visual, o caminhar com auxílio de uma bengala e até menções de que ele ensinou Bruce Wayne a lutar. Coisas que ocorrem no universo de Terra Um. Outras influências estão presentes no passado político de Thomas Wayne como candidato à prefeitura e o assassino conspiratório, bem como o parentesco de Martha com os Arkham’s e seu passado com doença mental. Por fim, a escolha do Charada como o vilão no segundo ano de carreira do Batman também ocorre em Terra Um.
Batman série de tevê de 1966
Outros referências insinuadas por Matt Reeves desde o começo se fazem presentes aqui, muitos momentos do filme prestam homenagens singelas a série responsável por tornar o Homem-Morcego o personagem influente na cultura pop que ele é hoje. Primeiramente podemos notar referências no cenário da Torre Wayne que conta com um telefone retrô e um busto de William Shakespeare, e se estendem para outros pontos como a máscara que o Batman de Robert Pattinson utiliza. É notável a semelhança com a máscara de Adam West, no nariz e na costura ao redor da parte da face.
O batmóvel muito mais parecido com um carro do que um tanque e o ronco de motor como uma marca notável assim como era na série de 66 também parecem referências diretas.
Outro detalhe interessante está na própria figura do Homem-Morcego que age menos como um mito e está sempre presente ao lado da polícia tornando ele uma figura mais próxima da população de Gotham principalmente no final com o personagem ao pôr do sol ajudando os feridos da enchente. Mais homenagens estão presentes na forma desajeitada que o Batman corre em determinado momento para fugir da polícia que remete diretamente a momentos icônicos de West e até mesmo algumas expressões faciais que o ator costumava fazer durante o seriado se faz presentes em momentos sutis do filme como na perseguição do batmóvel ou como ele observa as situações enquanto interage com outros personagens durante o filme. Por fim, a escolha de personagens como Mulher Gato, Charada, Pinguim e Coringa (ainda que seja só uma ponta, ele está lá) faz referência direta ao filme que deu origem a série de TV.
Santa inspiração, Matt Reeves!
Batman de Tom King.
Como já era esperado, Matt Reeves bebeu muito da fonte da influente e recente era do Tom King escrevendo o personagem. De forma mais sútil, as referências se fazem presentes na exploração de um Bruce Wayne mais vulnerável emocional e psicologicamente falando. Também há muita referência no romance entre ele e Selina que é um dos pontos centrais do longa assim como era na fase de King. Uma cena em especial entre os dois ao pôr do sol parece tirada diretamente de uma página dessa fase desenhada por Clay Mann. Os apelidos “Morcego” e a “Gata” que é tanto utilizado nessa fase também se fazem presentes no filme.
Batman: A série animada
Por fim, temos o bastião das adaptações do personagem como outra referência. As influências que o filme pega da animação de Bruce Timm e Paul Dini se fazem presentes principalmente na Gotham que exala ares de uma cidade cinquentista e na vulnerabilidade do Cavaleiro das Trevas. O Batman da série animada era bastante humano no quesito de combates corporais, sempre encontrando muita dificuldade em sair vitorioso em até mesmo combates contra criminosos comuns, algo que ocorre também no filme principalmente no terceiro ato quando o personagem precisa confrontar os seguidores do Charada. Além disso, a célebre frase “Eu sou a vingança” é outro elemento que vem diretamente da série.
Como na série animada, o Cavaleiro das Trevas de Pattinson também é uma carta perfeita de como se adaptar o personagem. Respirando sua atmosfera Noir e mantendo coisas inalteráveis de sua essência como a exploração cerebral do personagem, exploração dramática e seu código de justiça inabalável que o mantém longe de “cruzar a linha” que o impede de se tornar um assassino.
Com essas ricas referências, Matt Reeves constrói uma nova e memorável versão desse personagem tão icônico, respeitando e prestando tributos a cada uma dessas obras. O futuro do personagem parece brilhante com essa nova visão. Por fim, recomendo a todos dar uma olhada em cada obra citada no texto!!!