Adaptar qualquer obra é uma tarefa difícil, ainda mais se tratando de animes. Um gênero com um histórico não muito feliz de adaptações. Não contente com esse desafio, a Netflix resolveu adaptar um dos animes mais populares e influentes da cultura pop: uma obra prima chamada Cowboy Bebop. Mas como será que a adaptação se saiu em seu primeiro episódio?
Logo nos primeiros minutos do episódio somos introduzidos a uma situação que exala a identidade visual do anime, a atmosfera e principalmente, a essência. É uma cena que poderia estar facilmente presente na obra original e serve como uma introdução digna a essa adaptação. A direção de Alex Garcia Lopez é sólida e busca emular o tempo todo enquadramentos que remetam ao anime, se saindo muito bem nos momentos de ação. Ainda que algumas coreografias de luta deixem a desejar mais para frente no decorrer do episódio, em especial uma sequência de bar que tenta emular um momento muito marcante do anime, mas que aqui falha por uma falta de criatividade.
Por outro lado, o elenco da série é um acerto. John Cho como Spike, Mustafa Shakir como Jet e Daniella Pineda como Faye exalam o espírito dos personagens originais, desde os mínimos trejeitos que se completam com a excelente caracterização visual. O visual, aliás, é digno de todos os elogios possíveis transportando todo o mundo do anime para o live action. O último exemplo de que me lembro que conseguiu a mesma proeza foi o Speed Racer das Wachowskis.
Entretanto, alguns problemas se apresentam. Jan Uddin como Asimov e Lydia Peckham como Katerina, “os vilões do episódios”, entregam atuações apenas competentes não tendo um espaço muito grande para brilharem nesse episódio, ainda que a trama de ambos carregue uma dramaticidade muito poderosa cujo a fonte original conseguiu traduzir enquanto esse episódio não. Chegamos a maior fraqueza desse Cowboy Bebop: uma condução fraca de narrativa que busca trazer uma trama muito simplificada abandonando a forma sutil de que a narrativa asiática se beneficiava tanto. Esse problema atrapalha o ritmo da história principalmente na introdução prematura da personagem Faye Valentine (que apesar da ótima atuação), quebra completamente ritmo e narrativa do episódio enfraquecendo – de novo – o potencial do “casal de vilões”.
Um outro problema causado pela simplificação fica por conta da historia do nosso protagonista Spike, cujo a adaptação se esforça muito para repetir todos os clichês possíveis ao escancarar suas motivações, passado e até em pincelar o vilão principal da temporada no final do episódio. O que cria um contraste com a obra original que pegava elementos clichês e subvertia a estrutura, criando caminhos muito mais interessantes. Afinal, por que não passar um tempo maior com nossos personagens acompanhando como eles reagem a certas aventuras antes de escancarar todo um resumo sobre suas motivações em um dialogo?
Mesmo com uma forte identidade visual , uma trilha sonora excelente (afinal, temos a mesma compositora do anime) e um elenco de protagonistas competentes, a adaptação logo em seu primeiro episódio falha em uma das características que tornava seu material original tão marcante: sutileza e uma narrativa bem conduzida.
Só resta aguardar que os próximos episódios consigam se sair melhores nesse equilíbrio….