O longa-metragem que iniciou como uma produção de um drama romântico com uma pitada de investigação policial, que acabou se tornando uma comédia policial cheia de referências dos mais variados filmes aclamados em todos os gêneros, sem esquecer, das piadas internas entre os artistas participantes da velha guarda e da nova geração como influencers.
Me Tira da Mira é o filme que marca a estreia de Cleo e Bruna Ciocca como produtoras cinematográficas e protagonistas desta história, além de contar com o experiente diretor Hsu Chien (conhecido por Duas de Mim, com Thalita Carauta; Não se Aceitam Devoluções com o comediante Leandro Hassum). O filme conta com grandes artistas como Fábio Jr, Vera Fischer, Silvero Pereira, Sérgio Ginzé, Stenio Garcia, Maria Gladys, Cris Vianna entre outros que marcaram gerações.
Não devemos ir assistir o longa com o pensamento de ser um filme impactante e que talvez traga algum tipo de questionamento, como outros filmes brasileiros de comédia fizeram (tais como Minha Mãe é uma Peça ou Tudo Bem no Natal que Vem), pois é um filme família para assistir e rir, feito pela indústria cultural e passar nas televisões em horário nobre. A graça do filme é como o enredo foi produzido para conseguir casar com os títulos das músicas de Fábio Jr que faz uma participação como o pai da protagonista Roberta, vivida por sua própria filha Cleo. Porém, temos que ter em mente que é o primeiro filme da carreira de produtora de Cleo.
Como um bom cinéfilo, que em apenas nestes primeiros meses de 2022 Chien acabou consumindo mais de 300 títulos, acabou usando diversas referências no decorrer do enredo, usando e abusando das linguagens dos diversos gêneros cinematográficos. Entretanto, isso não foi o suficiente, pois em diversos momentos esses easter-eggs ficam soltos por ai e não ajuda a elevar o patamar do filme.
Um dos maiores erros do filme que fica extremamente perceptível é não saber acabar com uma piada. Se um rápido trocadilho ou uma cena que consegue tirar um riso ou outro funciona uma vez, não quer dizer que vá funcionar três ou quatro vezes de forma seguida. Isso não dá tempo para respirar e esquecer que esse elemento já tinha sido utilizado anteriormente.
A trama é de essência policial e tenta seguir esse caminho, mesmo que tome diversos caminhos que façam perder o interesse da obra; a trama de Isabela, a psicóloga “surtada” vivida por Bruna Ciocca chega a ser tão vergonhosa que gera uma vergonha alheia para aqueles que resolvem consumir a obra.
Contudo, esse filme consegue trazer algumas cenas que ficam marcadas graças a dois atores que conseguem tirar leite de pedra: Júlia Rabello e Silvero Pereira. As cenas que eles aparecem, conseguem roubar toda a atenção para si, trazendo um humor que soa de forma verídica e espontânea, muitas vezes, nem parecendo que estavam atuando.
Júlia Rabello vive a atriz com personalidade e sentimentos instáveis, Natasha Ferreiro, que está indo passar um tempo na Clínica Bianchini após sofrer diversos “cancelamentos” pelas redes sociais. A atriz já passa essa aura de comédia e quando começa a fazer seu laboratório de personagens para poder viver as gêmeas Ruth e Raquel de um remake da novela Mulheres de Areia, consegue nos fazer gargalhar. Já Silvero Pereira interpreta o bandido e traficante perigoso colombiano Ramirez que consegue trazer uma nova visão sobre o ator, que um dos capangas nada mais é que o ex-BBB Kaysar Dadour que infelizmente, tentou e não conseguiu fazer um papel marcante.
O filme funciona bem se levarmos em conta que o inicio das gravações foi sobre a segunda metade do ano de 2020 quando a pandemia estava ainda a todo vapor. Algumas cenas de luta pode parecer um pouco desconexas e até irreais em demasia, porém, todas foram ensaiadas horas antes das gravações que ocorreram num período de cinco semanas.
Levando em conta o tempo que tiveram, as diversas ideias de roteiro que tentaram se mesclar, muitos atores iniciantes, muitas cenas que não ajudam a compor um ritmo exato. O longa funciona como aquele filme que assistimos quando estamos no marasmo para poder aliviar o tédio, tirar algumas risadas e depois fazer alguns memes.
Sinopse:
“Policial dedicada, Roberta não vai parar enquanto não desvendar os mistérios por trás da morte da atriz Antuérpia Fox. Com a ajuda de sua terapeuta Isabela, ela se infiltra na Clínica Bianchini de Realinhamento Energético em busca de respostas. Rodeada de funcionários suspeitos, como a recepcionista Amanda Jéssica, e de clientes excêntricos, como a atriz Natasha Ferreiro, ela descobre que pode estar na mira de um esquema ainda maior“.
Crítica/Review
Me Tira da Mira
Apenas mais um filme de comédia pastelona que não soube o que queria no final.
PRÓS
- O filme aproveita a química e o humor da família Pires, que interpreta personagens relacionados entre si, e faz piadas com as músicas de Fábio Jr. e a vida real dos atores.
- O filme tem boas referências ao cinema de ação e suspense, como Sr. e Sra. Smith, e cria uma atmosfera divertida e estilizada, com uma fotografia e uma trilha sonora marcantes.
- O filme explora os dramas existenciais da protagonista Roberta, vivida por Cleo, que é uma policial obcecada por um caso e que tem conflitos com o pai e o ex-namorado.
CONTRAS
- O filme exagera nas piadas e nas referências, que se tornam cansativas e forçadas, e perde o foco na trama principal, que é a investigação do assassinato da atriz Antuérpia Fox.
- O filme tem um roteiro frágil e confuso, que introduz muitos personagens e histórias paralelas desnecessárias e sem desenvolvimento, como a da psicóloga e a do ex-namorado de Roberta.
- O filme tem cenas de ação mal dirigidas e sem lógica, que comprometem a verossimilhança e a tensão da história, e que mostram a falta de ensaio e de preparação dos atores.