É fato: Homem-Aranha: Sem Volta para Casa já é um sucesso absoluto de bilheteria sem nem ter estreado. Milhões de fãs de quadrinhos e super heróis pelo mundo inteiro aguardam ansiosos pelo fim dessa primeira leva de filmes protagonizados por Tom Holland. Mas o que está por trás disso?
Desde 2008, a Marvel Studios vem construindo de maneira exemplar um universo em que dezenas de pessoas com super poderes (ou não) coexistem, dentro e fora da Terra, e diariamente salvam o mundo das mais variadas ameaças. Tudo isso culminou em 2019 quando foi lançado o quarto filme dos Vingadores, representando a batalha final contra o grande vilão Thanos e o fim do que ficou conhecido como Saga do Infinito. Sem dúvida, foi um estouro de bilheteria e crítica, encerrando de forma magistral todo um arco de personagens desenvolvidos por mais de dez anos no imaginário dos fãs. Nos anos seguintes, não podemos dizer que tudo correu tão bem. As novas produções da Marvel Studios no cinema e no streaming, após o encerramento desta grande saga, tem preocupado quando o assunto é consistência. Mesmo com todo um trabalho excelente de efeitos especiais e atuação, essas novas produções tem levantado um hype um tanto equivocado nos fãs.
É completamente normal que o público espere ver algum dos heróis principais fazendo breves aparições em produções de heróis menores, mas isso já está passando o limite do aceitável. E quanto a isso, é necessário enxergar ambos os lados da moeda. Tanto os fãs elevam a expectativa a um grau muito acima da realidade, como também o próprio estúdio não se poupa em colocar pequenas referências e easter eggs à todo momento que poderiam indicar alguma participação especial num futuro próximo.
O problema é que essas participações especiais não só não acontecem, como essa mera possibilidade desvia totalmente a atenção do público enquanto está assistindo. Assim, ao invés de apreciar a obra no que a trama de fato se propõe a ser, todos gastam uma energia enorme tentando identificar alguma referência para no fim nada disso acontecer.
Exemplos bem claros são as recentes minisséries WandaVision e Falcão e o Soldado Invernal que, com uma qualidade excelente, acabam tendo o brilho de suas tramas ofuscado. Ou será que ninguém percebeu que WandaVision é uma história de luto e superação com a morte de entes queridos, e Falcão e o Soldado Invernal aborda com maestria a passagem de manto do maior símbolo de dever e esperança na Terra?
E pensando num panorama ainda mais recente, não dá para deixar de citar Homem Aranha: Sem Volta para Casa. Quantas pessoas vão assistir ao filme porque realmente se interessam pela trama e quantas vão pela única possibilidade da participação de Andrew Garfield e Tobey Maguire, os antigos homens-aranha do cinema? Pensando melhor, quantas vão sair dos cinemas descontentes simplesmente pela ausência desses dois, mesmo se a trama do filme for espetacular?
Sem dúvida, é um ponto a se pensar. Na minha opinião isso tudo também é culpa do grau exagerado de conexões que o Universo Marvel faz com si mesmo. Chegamos num ponto em que é impossível um filme não incluir elementos desnecessários só para reforçar que tudo se passa no mesmo universo que Os Vingadores e tudo mais. Não é atoa que os melhores filmes de atualmente são os que menos apresentam essas conexões, trabalhando num cenário totalmente novo e com mitologia própria, como é Pantera Negra e Shang-Chi.
Se os filmes atuais são ruins? Claramente não. Mas ainda falta muito para a Marvel aprender sobre como uma produção se sustenta por si só. Com todos os defeitos, talvez os filmes de heróis da DC sejam uma melhor opção nesse sentido.