Como um fã de carteirinha da série de jogos de Halo, que conheci em 2011 com o título Halo: Reach, e como um jogador assíduo da saga de Master Chief (protagonista da maior parte dos jogos), eu quase saltei da cadeira quando vi o trailer da série pela primeira vez após o teaser no The Game Awards e que estrearia no Paramount Plus.
Mas mesmo sabendo que a série adaptada seguiria um universo diferente dos jogos, a “Silver Timeline”, eu sempre fiquei com aquela pulga atrás da orelha na forma das seguintes perguntas: o quão longe ou próximo será a semelhança da série e dos jogos? E até onde a liberdade criativa de não seguir uma linha do tempo planejada contribuirá ou prejudicará a originalidade do universo e a caracterização dos personagens?
Agora que o primeiro episódio foi lançado, pelo menos já temos as respostas iniciais das perguntas acima, e é lógico que podem mudar, mas representam um indicativo (felizmente positivo em sua maior parte) de que o caminho tomado tem potencial. Mas vamos separar cada tópico: a primeira sessão deste artigo não contém spoilers, e a segunda possui, mas em ambas traçarei paralelos com os jogos e discutirei se as mudanças foram para melhor ou pior.
“Eu preciso de uma arma” (sem spoilers):
A primeira coisa com a qual fiquei com o pé atrás foi a aparência da Cortana na série de TV, que apesar de ser interpretada pela fabulosíssima Jen Taylor (atriz que interpreta a personagem original nos jogos), não agradou a maior parte do público, e ainda que ela não tenha aparecido, grande parte do núcleo do elenco deu sua palinha, e eu estava curioso para saber se eles haviam cometido outra mancada.
Graças aos Forerunners, todos foram competentes e fiéis (ao seu próprio modo) aos personagens, principalmente Pablo Schreiber, que deu seu próprio toque a um Master Chief mais proativo e independente. Esteticamente a caracterização é belíssima. Os Pelicans, Spartans, Sangheili, Porphets, todos remetem claramente aos jogos e mantém-se fiéis em seu propósito artístico. E quanto as localidades, tanto Madrigal, Reach e a cede de High Charity não decepcionam.
Porém, o que decepciona (ainda que seja compreensível) é a simplificação excessiva das cadeias de eventos que levam os jogos a acontecerem, e o que era uma subida cadenciada e gradual para o clímax, somente pelo primeiro episódio torna-se uma resolução pobre, estando longe de ser um bom gancho para o público que não sabe muito sobre o cenário e os jogos, ainda que as cenas de ação tenham compensado.
“Se você soubesse como morreria, como você viveria sua vida de forma diferente?” (com spoilers):
Acho que essa pergunta muito presente em Halo: Infinite define bem como muitas das mudanças da série foram-me agradáveis, mas tem seus pontos fracos, e começarei por eles. A primeira coisa que achei sem graça é o descobrimento esdruxulamente casual de uma instalação forerunner, e a descoberta de um mecanismo que ativa as memórias de Master Chief, mas esse nem é o pior.
Parece que a série quer que todos os eventos catalisadores de cem anos até Halo: Combat Evolved aconteçam de modo simultâneo, o que é bastante arriscado, mas empolgante para quem já conhece os acontecimentos do jogo e quer ver como as coisas poderiam ter sido diferentes. Não começou com a melhor das explorações, ainda que a decisão tenha sido interessante.
Eu gostei muitíssimo da demonstração efetiva da ameaça de um spartan e como para a UNSC eles não passam de armas descartáveis, e gostei de como todos os personagens possuem algum traço cinzento em suas personalidades desde o início (ainda que infelizmente em contextos clichês). O Master Chief somente passa a questionar o órgão governamental em Halo 4 e 5, e gostei muito que eles adiantaram as coisas. Até mesmo o povo questiona de modo muito mais inquisitivo o governo (coisa que somente podemos perceber de certa forma em Halo 3: ODST).
Também gostei demais da presença de uma antagonista humana como membro do Covenant, desejo que eu tinha desde os primórdios de Halo 2: Anniversary. O capitão Keyes e a Miranda Keyes também têm um contraste cinzento e agradável. As referências ao jogo são sutis (um som de invisibilidade aqui, uma frase de um dos jogos ali) e representam uma adaptação que é quase como inverter os sabores do seu sorvete favorito. E é isso que essa série está se provando, os mesmos sabores organizados de uma forma inédita. Resta-nos saber se ele derreterá antes que acabe, ou se continuará saboroso como a maior parte desse primeiro episódio.