Neste incrível cenário do mundo dos jogos, a experiência e abrangência de gêneros e temáticas têm atraído muitos jogadores e, consequentemente, desenvolvedores, a tentarem inovar em seus produtos tanto na forma como o são consumidos como na forma como o são produzidos.
Pentiment é uma verdadeira obra de arte no sentido metalinguístico e prático da coisa; um verdadeiro mergulho na Europa medieval em que as ideias revolucionárias e crises assolavam a Igreja e a crença das pessoas em tais instituições.
Acompanhamos a história de Andreas Maler, um artista enviado de sua casa após desavenças quanto a um futuro incerto para uma abadia de interior. O jogo se passa em Tassing, uma cidadezinha no interior da Baviera. O jogo conta o cotidiano da vida plebeia, da nobreza e dos irmãos da igreja, tudo isso enquanto tentamos finalizar nossa obra–prima.
A começar pela direção de arte, o jogo é narrado como um livro: as partes ilustradas são aquelas que jogamos, e os diálogos são representados de maneira primorosa como se um escritor medieval os estivesse redigindo, utilizando jargões e fontes temáticas para cada personagem. A ausência de diálogos pode estranhar no início, mas se o jogador aceitar a proposta do jogo, não encontrará dificuldades no modo com o qual a narrativa é apresentada para nós.
A arte de cada cenário e personagem também é inspirada nas xilogravuras medievais, um excelente toque que dá ao jogador uma constante visão daquilo que poderia ser a vida em tal época. Ainda assim, os diálogos e textos são acessíveis, e quando questões históricas são abordadas, o jogo fornece um glossário elucidativo que sana qualquer dúvida sobre o que está acontecendo ou o que acontecera no determinado período.
A história do jogo começa de verdade quando um assassinato (que não direi quem fora a vítima ou assassino, podem ficar tranquilos) toma conta da abadia. Andreas Maler se vê em uma busca intrigante para inocentar um colega da igreja enquanto mergulha nas culturas que remontam ao império romano e povos pagãos antes mesmo da chegada da cristandade.
Vale ressaltar duas coisas: apesar de ser um excelente jogo investigativo, ele é feito de tal maneira que o verdadeiro assassino é revelado somente na última hora de jogatina. A culpa em procurar a verdade assola diversos personagens, e o que me surpreendera é o quão longo é o jogo. Preparem–se para ler bastante, e com calma, pois cada morador pode fornecer informações cruciais.
O jogo tem muitos elementos dos clássicos role–playing, visto que seu diretor criativo, Josh Sawyer, já é um veterano da indústria, tendo trabalhado e liderado jogos como Pillars of Eternity e Fallout: New Vegas. A escrita é muito boa, e o roteiro, competente. Cada um dos personagens é carismático e os atos bem definidos contribuem para um engajamento epopeico da história.
Confesso que este foi um dos jogos que mais calou minha boca, visto que em nenhum momento acreditei que pudesse ser nada além de um jogo mediano. Eu estava errado. Pentiment possui uma narrativa que decerto não foi feita para agradar a todos, mas que será uma experiência digna de emoção àqueles que gostam de História, Teologia, e dos clássicos contos e novelas de Sherlock Holmes ou das intrincadas tramas de Agatha Christie.
Como é um jogo com orçamento menor, seria injusto julgá–lo como algo que não o é, mas para os seus parâmetros e a sua proposta, não posso dar menos do que a alcunha de “obra–prima”, que provavelmente envelhecerá como um bom vinho em nosso mercado.
Nota: 10/10