Em outros artigos no site já discuti sobre como os jogos narrativos nos permitem experimentar sensações exóticas e introspectivas, algo que aprecio deveras. Recentemente tive a oportunidade de jogar Road 96, um jogo narrativo que tem como premissa: diversos adolescentes tentando fugir do país e pegando carona com estranhos, enquanto avançam para a estrada 96.
Um desabamento que abalou a reputação pública de um governo ditatorial em que supostamente diversos adolescentes estavam envolvidos contribui para diversos mistérios, como uma busca incessante por apreensão de menores e uma suposta rede de trabalhos forçados.
Acompanhamos de maneira anônima a história de diversos personagens marcantes, enquanto tentamos diversas vezes (com vários adolescentes) atravessar a fronteira. É um jogo, acima de tudo, sobre a viagem. E sobre pessoas, e cada uma delas tem uma opinião diferente sobre política, visto que o papel do cidadão é constantemente levantado na temática entre capítulos.
Podemos apoiar opositores, levantar revoluções anarquistas, ou simplesmente ser indiferente e tentar seguir nosso próprio caminho. Diversos personagens carismáticos nos acompanham, e não quero dar spoiler de nenhum, pois gosto muito deles e espero que seja um jogo que entre para o radar de quem está lendo isso.
Todos eles estão ali com alguma desavença moral do espectro político, alguns de modo radical, outros questionando seu posicionamento, e o que gosto no jogo é que tudo é subjetivo e cinzento, e o mais importante são as pessoas. Os políticos têm pouco espaço na trama, mas as pessoas do dia a dia continuam com suas vidas a serem afetadas pelos de cima.
É uma excelente experiência e demonstra vários aspectos que vivemos hoje no Brasil, como polarização política, esquemas de corrupção, questionamento da consciência governamental, entre outros. Fica a recomendação e lembre–se: às vezes a melhor carona é uma consciência segura.