Se você acompanha o mundo dos jogos ultimamente, já deve ter ouvido falar de um tal de “Xbox Game Pass”, da Microsoft, e se acompanhou as notícias dessa semana, também deve ter ouvido falar na reestruturação do serviço “Playstation Plus”, da Sony. Apesar dessas que citei serem as principais, não são as únicas empresas que oferecem algo parecido, também temos a Nintendo com seu serviço, e claro, as outras big tech’s.
Empresas como Amazon, Microsoft, Google e Apple veem o mercado de assinaturas como algo inevitável no mundo do entretenimento eletrônico, e ainda que algumas tropecem (como um tal de “Stadia”), todas estão comprometendo-se a efetuar grandes investimentos em serviços por assinatura (como a Microsoft, com sua recente aquisição da Activision Blizzard) e jogos como serviço (como a Sony, que adquiriu recentemente a Bungie, empresa responsável por um dos maiores jogos com estilo de serviço da atualidade).
Mas o que quero discutir não é o que cada um oferece, qual é melhor ou pior, mas sim exercer uma discussão sobre onde este caminho pode levar-nos enquanto consumidores e jogadores. Já imaginou como o modo que as pessoas consumiam entretenimento mudou drasticamente nas últimas décadas? Se eu viajasse uns cinquenta anos no passado e dissesse que teríamos produções cinematográficas de altíssimo nível dispostas nas palmas de nossas mãos, e que poderíamos acessar catálogos quase ilimitados de filmes e séries, as pessoas provavelmente teriam rido de mim.
O quero dizer aqui é, será que não chegará um ponto em que o mesmo poderá ser dito (ou quem sabe algum outro formato que no futuro parecerá óbvio, como: “nossa, como assim você não consegue sentir o cheiro do que está dentro do jogo?”) sobre o modo como consumimos entretenimento? Empresas como Amazon, Google, Microsoft, possuem sistemas de computação em nuvem de última geração, e a capacidade de atrelar este poder a um serviço pode alavancar exponencialmente o escopo dos jogos.
Pense comigo, mesmo com consoles de última geração, eles ainda têm suas limitações de hardware, agora, e se o modo como consumimos o jogo mudar, e como fator de compra fosse-nos oferecida uma experiência que é somente possível em um supercomputador em nuvem? Recentemente, a Microsoft anunciou uma divisão do Xbox focada em produção de jogos em nuvem, e é natural que outras empresas acabem seguindo por este caminho.
Seja de uma forma direta ou abstida dos jogos, como o Facebook, que tem tentado criar uma realidade imersiva conjunta que recebeu um apelido popular no mercado: o Metaverso. Seja de uma forma indireta, como os jogos, que nada mais são do que experiências virtuais conjuntas, cada uma procura um ecossistema que busca cativar o tempo que o usuário investe na plataforma, e os serviços são uma excelente e sutil forma de receber esse engajamento e, consequentemente, lucros exorbitantes.
Se você já leu o livro de Ernest Cline ou viu o filme de Steven Spielberg, “Jogador Número Um”, sabe que naquele universo a realidade é tão monótona e precária (lembra até um mundo que a gente conhece) que as pessoas apelam para uma emulação de experiências conjuntas onde elas podem fazer o que quiserem, onde o código foi transcendido e os sistemas sociais também. É lógico que não quero dizer que o nosso futuro será distópico como no caso desta ficção, mas é engraçado como o conceito de “jogo” tem ficado cada vez mais subjetivo à medida que o tempo passa, e o conceito de assinaturas como o “Xbox Game Pass” tem mudado gerações de consumidores.
Hoje em dia, muitos colegas com quem eu jogo não falam mais “vou jogar algum game do Game Pass”, mas, ao invés disso, dizem “vou jogar um Game Pass”; o conceito de disco já é, para muitos, obsoleto, e logo o consumo singular de experiências interativas tornar-se-á uma mera “inconveniência” nichada. Essas “inconveniências” sumirão? Não, mas como a fita cassete, será mais um fator nostálgico do que primário o que nos fará ter uma delas.
Enfim, acho que, por agora, nossa pequena revolução será no modo como pagamos pelo produto, no caso, os serviços por assinatura, mas no futuro, o modo de consumo poderá ser alvo de uma nova revolução. É estranho para mim pensar que discos já são objetos raros na coleção de um jogador, e mais estranho ainda é pensar que no futuro provavelmente nem os consoles farão parte da vida de um jogador. Se isso é bom ou ruim, eu sinceramente não sei (gosto de acreditar que serão fatores que democratizarão o acesso aos jogos, e isso é sempre bom), mas que é algo interessante de se pensar, isso é. Mas e você, qual é a sua opinião sobre isso? É uma discussão longa, mas quando trata-se de jogos, fico ansioso em pensar sobre o que o futuro guarda para nós.