“Becca saudou a sirene e o auxílio que traria. Não era mais para si que ela esperava a ajuda”
A Garota do Lago (com nome original: Summit Lake) é da autoria de Charlie Donlea e distribuído pela editora Faro Editorial, sendo uma das suas mais famosas obras de suspense e mistério.
O livro ficou no top 10 de mais vendidos durante um longo tempo, não apenas pela obra ter um enredo envolvente, mas sim pela escrita bem detalhada que prende o leitor pelo mistério e a vida das duas protagonistas apresentadas.
“ Não importando quão complexos fossem, todos os mistérios podiam ser traçados de volta até a sua origem“
Donlea fez sua grande estreia no universo literário com esta obra, sendo seu primeiro thriller que funciona como um “ping-pong” entre o passado e o presente. Afinal, Summit Lake era uma cidade pacata nas montanhas que nunca imaginou passar por um horror ao ser pano de fundo de um assassinato grotesco de uma jovem estudante de pós-graduação em direito em sua pequena cabana beira lago.
O autor decidiu iniciar o livro com horas antes do final, mostrando a cena de como a jovem Becca foi atraída para o perigo como uma mariposa é atraída pela chama. Mostrando, com pouquíssima censura, o que aconteceu com a jovem antes de sua fatídica morte.
A partir deste momento adentramos na vida da jornalista Kelsey, que também acabou de sair do maior trauma de sua vida que a fez ficar longe durante um mês de seu trabalho, porém, ela decide voltar a escrever para seu jornal quando conhece o caso de Becca. Kelsey e Becca compartilham algumas coisas em comum, como os traumas, mas quando um vivo caminhar nas pegadas de um morto, uma conexão íntima se estabelece.
O livro é dividido em quatro partes: “A cachoeira do sol da manhã”, “autoajuda”, “olá detetive” e “três batidas” que são carregadas de reviravoltas.
Infelizmente na parte do futuro que é na visão da jornalista, as pistas são dadas numa bandeja de prata como se ninguém entendesse o significado de “confidencial”. Delegado, moradores, médicos e outros estão sempre dispostos a dar tudo que sabem por causa de uma breve aparição na notícia, mesmo que isso signifique ultrapassar barreiras que podem degradar sua vida e carreira.
A vida de Becca, tanto em suas memórias quanto registradas no seu diário, é uma das cenas mais envolventes, como se o autor realmente quisesse trabalhar apenas com seu núcleo. Somos apresentados a diversos personagens que vão nos deixando com uma pulga atrás da orelha para saber quem foi o envolvido na morte da estudante de direito.
O autor se perde em alguns momentos, como ele tenta escrever a Becca como uma mulher empoderada que fazia o que bem entendia, mas que no final, saiu como a morte dela fosse merecida por ela ser simpática demais com rapazes dando uma falsa esperança que poderiam ter um caso amoroso com ela.
E mesmo com um mistério para ser resolvido nas mãos de uma jornalista que mal se curou do trauma que havia passado, o autor resolve trabalhar um possível romance entre ela e o médico que decide ajudá-la com a desculpa de querer estar dentro de tudo sobre o caso. E infelizmente, não funciona, pois Kelsey tem muito mais química com Rae que é a nova dona do café da cidade que a ajuda muito mais que o médico.
Muitos personagens parecem jogados ali apenas para utilizar um diálogo expositivo, que poderiam ser melhor trabalhados tanto nas conversas quanto nos personagens apresentados que somem de cena assim que não se faz mais necessário. Donlea sabe muito bem como construir tensão, medo, as cenas de conflito, a paisagem que serve como pano de fundo. Muitas vezes o leitor pode sentir a leitura um pouco maçante, pois o autor usa muitos termos médicos e palavras que poderiam ser substituídas por outras de melhor entendimento.
No final, alguns nós ficam desatados como: por que o pai de Becca não queria a solução de seu assassinato? Por que o diário ficou com a senhora do chá-doce em vez de ser entregue a mãe da jovem? Gail poderia ter ajudado muito mais do que apenas ter dito qual dos colegas realmente faleceu e entre outros. O autor parece que não tinha muito interesse em aprofundar a obra, talvez, por ser seu primeiro livro, não quis se arriscar muito além do necessário, usando a frase: “menos é mais”.
A obra em si não é horrível como é vendida por muitos, existe sim muitas repetições de termos e momentos que em alguns momentos é necessário, a cidade é movida a fofoca. É um livro de thriller que não seria muito bem recomendado para aqueles leitores que já estão acostumados com essa categoria, deixaria como uma boa pedida para aqueles que não conhecem o gênero e querem começar com algo que não embaralhe tanto as informações e cenários.
Infelizmente “A Garota do Lago” é um título traduzido que não conseguiu casar tão bem com o que é entregue durante o decorrer do enredo, pois há referências do lago, mas a cidade é mais conhecida por sua cachoeira que muda de cor por breve momento num horário específico do dia. A única referência do lago em si é a palafita onde ocorreu o caso e nada mais, porém, esta obra foi lançada na época que grandes nomes literários usavam essa expressão como “A Garota da Janela” e acabou seguindo a fórmula.
O livro possui 295 páginas, foi publicado em sua primeira edição em 2017 pela Faro Editorial para todo o território brasileiro, está em sua segunda edição e podendo ser encontrado em diversas livrarias físicas e onlines ou pelo site oficial da editora.
Temos como sinopse oficial:
“Sem inimigos nem suspeitos. Apenas uma pessoa cheia de planos que estava viva num dia e, no outro, é encontrada morta.“
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Crítica/Review
A Garota do Lago
Charlie Donlea fez sua estreia no mundo dos escritores com A Garota do Lago (Summit Lake), no qual muitos dizem ser um dos piores livros já escritos. Porém, devemos levar em conta que é o primeiro livro do médico e que existe uma longa evolução que ele seguiu em suas outras obras. É um suspense bem elaborado no thriller, mas não seria indicado para aqueles que acompanham esse estilo literário já conseguem decifrar o mistério de primeira. Para quem nunca leu ou está começando agora é uma boa pedida.
PRÓS
- Construção do passado da personagem em questão que envolve todo o mistério.
- Ping-pong entre passado e presente das duas protagonistas.
- A paisagem no qual é o pano de fundo muito bem construído.
- Escrita envolvente, que constrói em camadas o mistério e a tensão sobre o assassinato.
- O passado da personagem Becca que é muito bem construído em diversas camadas em seu diário.
CONTRAS
- Facilidade da jornalista conseguir tudo que precisa para resolver o mistério.
- Desenvolvimento dos personagens secundários deixa a desejar, principalmente, por parecerem estar jogados ali.
- Mortes desnecessárias para poder tirar personagens suspeitos da jogada.
- A facilidade de Kelsey conseguir construir a linha temporal de Becca, no qual nem os polícias conseguiram.
- Termos que dificultam o entendimento do enredo para quem não está acostumado ou está entrando nessa categoria.
- Nenhum momento os que ajudam a jornalista tem um motivo válido, a não ser estar por dentro da maior fofoca local.
- A falta de dificuldade para traçar a linha do tempo dos acontecimentos tira um pouco da graça do mistério.