Não só quem assistiu O Esquadrão Suicida, mas também aqueles que viram Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa sem dúvidas notaram um fator bastante peculiar: os efeitos coloridos e surrealistas que ocorrem quando Harley está em cenas violentas, especificamente quando ela mata alguém.
Em Aves de Rapina, durante o ataque da vilã a delegacia, vemos uma sequência de guardas sendo atingidos pelo que parecem ser bolas de borracha, bombas de tinta e confete, enquanto agora, em O Esquadrão Suicida, uma das cenas que mais chamou a atenção dos espectadores foi a intensa sequência de ação onde Harley enfrenta os soldados de Mateo Suárez, numa explosão intensa de flores, pétalas, luzes e até pássaros. Mas afinal, o que estes elementos significam?
Segundo produtores dos filmes, como Peter Safran e Beth Mickle, que participaram do filme do Esquadrão, o objetivo é mostrar as coisas aos olhos da personagem. Embora seja oficialmente declarada como sociopata e obssessiva, a Arlequina possui outros distúrbios menos abordados nas tramas, e um deles é a alteração da realidade. No caso, durante estas cenas, os efeitos belos e coloridos nada mais são que os delírios da personagem em meio ao banho de sangue, retratando como ela está vendo estas cenas e principalmente como sua mente sempre minimiza para si mesma a gravidade de seus atos.
O que menos pessoas sabem ainda, é que isto não é novidade dos filmes. Já na série “Arlequina: Prelúdios e Trocadalhos”, que ocorreu dos volumes 1 à 7 da Revista Arlequina, que satiriza Sandman com o título (sendo uma brincadeira com “Prelúdios e Noturnos), este elemento já era abordado.
Na trama de Karl Kesel, com ilustrações de Terry & Rachel Dodson, publicada em 2000, temos este aspecto da mente da vilã trabalhado enquanto ela se emancipa de seu querido “Pudinzinho”. Isso mesmo, a separação de Arlequina e Coringa não é algo recente, tendo ocorrido ainda em 2000, na New Earth, antes dos eventos de Os Novos 52, linha recentemente reestabelecida (e fundida em partes com N52) após DC: Renascimento. A grande confusão se dá principalmente porque a personagem ganhou popularidade entre o público maior após as versões dos jogos das séries Arkham e Injustice, aonde ela ainda é obcecada pelo vilão, mas para quem é um antigo consumidor de HQs, sabe-se que o “relacionamento” entre as principais versões dos personagens foi breve.
A história, que aborda o fim da relação de Harley, convencida por Hera Venenosa após esta ser baleada pelo Coringa em seu lugar, mostra uma Arlequina buscando seu espaço nas ruas de Gotham, criando sua própria gangue criminosa e se metendo com outros inimigos do Homem Morcego. Em meio a isto, em vários momentos vemos o mesmo efeito apresentado nos cinemas.
Aqui, cada ato violento da protagonista é visto pelos olhos da mesma e apresentado ao leitor como uma cena de violência cartunesca, típica de desenhos como Tom & Jerry, e fora isso, uma genial e bela referência é feita nestas páginas específicas. Enquanto a história é ilustrada quase sempre com uma arte tradicional de artistas de HQs, mais realista, tudo aos olhos de Harley e do público nestes momentos específicos é visto com os traços de Bruce Timm, criador do antigo e mais querido universo animado da DC, onde a personagem foi criada originalmente, na clássica animação do Batman dos anos 90.
Cada explosão, eletrocussão, etc, se torna um cômico trecho de desenho animado, enquanto a realidade continue a apresentar as reais consequências dos atos da vilã. Fora isso, a história faz um belo trabalho, aprofundando a personagem ao apresentar detalhes de seu passado, desde as modificações feitas em seu DNA pela Hera Venenosa após Harley ser quase morta pelo Coringa, despachada em um foguete durante Terra de Ninguém, como o suposto assassinato de seu namorado durante a faculdade, seu interesse precoce no Príncipe Palhaço do Crime, entre outros elementos.
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