George Pérez é um nome que dispensa apresentações dentro do mundo dos quadrinhos, sendo o responsável por diversos clássicos absolutos como a revitalização dos Novos Titãs ao lado de Marv Wolfman, Crise nas Infinitas Terras, Vingadores, Liga da Justiça/Vingadores, e Mulher Maravilha.
Sua passagem na Mulher Maravilha é certamente um dos clássicos absolutos da DC Comics e o início de sua fase na personagem ao lado do roteirista Greg Potter, é sem exagero algum a melhor coisa já feita em todos os anos de história da Princesa das amazonas. Um início que moderniza a personagem, abraça muitos elementos estabelecidos em sua criação e enche de substância, traçando críticas à época e também, enraizando fortes elementos feministas na origem da personagem como todo o inicio dedicado a estabelecer a origem das amazonas e suas vidas passadas, principalmente da Hipólita. É um início sólido que se dedica a estabelecer todo o universo da Mulher Maravilha até chegarmos ao ponto clássico de sua origem: a queda de Steve Trevor na Ilha Paraíso.
Ao longo dessas primeiras edições, também temos o vilão Ares sendo estabelecido junto com todo o contexto envolta dele e muito além do roteiro de Potter, a arte de Pérez brilha. O visual de Ares é icônico, misterioso e imponente. Para mim, um dos melhores visuais de um vilão nos quadrinhos ( cof, cof…que desperdício filme da Patty Jenkins… ), mas feitas as devidas apresentações vamos ao motivo de todo esse texto.
O imponente Deus da Guerra.
Como todo bom produto da cultura pop dos anos 80, estamos em uma trama que traz críticas à Guerra Fria e o medo de uma guerra nuclear iminente. Ares por ser o Deus da Guerra, naturalmente está se beneficiando de todo esse período conflituoso e deseja lançar as ogivas nucleares para se alimentar das maiores das guerras. No entanto, a Mulher Maravilha impossibilitada de conseguir vencer o vilão com os punhos, usa seu laço da verdade para que Ares enxergue em que sua ambição o levará, e temos um trecho icônico:
“ De repente, Ares enxerga cogumelos atômicos se elevarem sobre as maiores metrópoles da terra. O Deus sente o calor do fogo radioativo arrancando carne e pele, transformando os ossos em cinzas e devastando todo um planeta. Por um breve instante, uma onda incandescente varre a terra. Ares finalmente é o senhor de nosso mundo, mas está só. Seu reino é uma esfera calcinada, sem vida e sem qualquer utilidade. Envolto pelo laço da verdade, o olimpiano enxerga as consequências de suas ações e, pela primeira vez em sua existência imortal, o Deus da guerra chora….. “
A arte magistral de Pérez brilha ao lado de seu argumento e o roteiro de Potter, e o vilão da história não é derrotado com os punhos, com uma espada, uma frase de efeito ou com o poder do amor. Ele é simplesmente derrotado com o maior poder da Mulher Maravilha: o poder da verdade. Esse conflito não apenas subverte as convenções das próprias histórias de super-herói, como também define muito da personagem título e seu arco durante a história. Nessa página, George Pérez não apenas resolve o conflito, derrota o vilão, mas também define Diana Prince como muito mais do que uma guerreira. A Mulher-Maravilha de Pérez tem vulnerabilidades, tem coração, é doce e não deixa de ser uma mulher forte. Diferente de outras interpretações que buscam o mesmo e tornam a personagem em nada mais do que uma guerreira fria, pessimista e violenta como em filmes como Batman vs. Superman e a Liga da Justiça de Zack Snyder ou dentro do próprio mundo de quadrinhos como na grande maioria da fase dos Novos 52, mas isso é assunto para outro texto…
Retornando para a página agora no ponto de vista do vilão, temos Ares inicialmente imponente no primeiro quadro enquanto o planeta inteiro é varrido pelas bombas nucleares até o acompanharmos em sua desilusão que o leva a derramar lágrimas. Vemos ali, por baixo daquela imponente armadura, uma vulnerabilidade e também um lado humano. Quase como um simples homem ambicioso enxergando que suas ambições o levaram para a própria ruína. Tal caracterização casa diretamente com lado humano tão presente dentro da religião grega e seus deuses.
Com seu argumento e arte, Pérez não apenas redefiniu a Mulher-Maravilha e seu universo com esse primeiro arco de histórias, mas também com seus desenhos deu vida a uma história riquíssima com um final subversivo e um vilão muito interessante. Um verdadeiro gênio dos quadrinhos. Ao final desse texto, venho não apenas recomendar fortemente essa fase da personagem, mas também celebrar os trabalhos grandiosos deste autor que está vivendo um período difícil. Ano passado esse lendário gênio dos quadrinhos anunciou por meio das redes sociais que está com câncer terminal pegando de surpresa todos seus fãs inclusive esse que vos fala. E que maneira melhor de homenagear um artista do que celebrando todo seu incrível e grandioso legado?
Prestigiem este grande trabalho de sua sensacional fase na Mulher Maravilha e em outros títulos, principalmente os Novos Titãs!
E enquanto isso, um Deus da Guerra derramará suas lágrimas…