Aos 78 anos de idade, Paul McCartney se recolhe numa fazenda no sul da Inglaterra. Ele se deita na poltrona para um cochilo após o café e…Ops! Acabou de gravar mais um disco!
Brincadeiras à parte, McCartney III é o décimo oitavo disco de estúdio do artista e uma continuação dos clássicos McCartney (1970) e McCartney II (1980).
O disco conta com todos os instrumentos tocados pelo próprio Paul, além também da produção musical. Logo de primeira, é fácil perceber uma identidade própria das músicas. Fica clara aqui a pegada muito mais instrumental e o esforço por parte do artista de fazer algo novo, dissociado da imagem do rockstar preocupado em agradar as massas com hits de sucesso. Aqui, a instrumentalização é muito mais focada em algo relaxante, que muitas vezes lembra até uma música ambiente. Melodias bombásticas que grudam facilmente na cabeça são deixadas de lado em prol de uma atmosfera reconfortante e bastante amigável.
Winter Bird/ When Winter Comes
Ao ouvir todas as 11 faixas é impossível não fazer um paralelo com Egypt Station, o disco que conquistou multidões com um apelo muito mais popular. Lançado em 2018, representou muito bem o apelo comercial que Paul sempre teve, diferentemente dos seus ex-colegas de banda durante suas respectivas carreiras solo pós-Beatles. É enorme o contraste entre os mega hits de sucesso com melodias bombásticas e músicas muito mais experimentais e com enfoque no instrumental em detrimento da voz.
Nesse caso, é inevitável que o álbum divida opiniões entre aqueles que esperavam algo semelhante aos anteriores e aqueles que abraçaram a ideia de um Paul mais intimista e que não mais força a voz para se adequar aos antigos hits que ele estava acostumado a fazer.
Não restam dúvidas de que o isolamento social foi suficiente para que Paul McCartney desenvolvesse ótimas ideias novas e trabalhasse em outras já existentes. Apesar de estar a quilômetros de distância da qualidade do excelente Egypt Station, McCartney III explorou muito bem uma pegada mais intimista e que leve menos para o lado comercial. Sinto que seria difícil fazer um trabalho mais verdadeiro que esse, que funciona como uma forma de suspiro de alívio em meio a todo o caos que estamos vivendo no mundo.
Sinto também que McCartney III era o disco que 2020 precisava.
Leia mais sobre Música