O título A Baleia está intimamente ligado a uma redação baseada em Moby Dick de Herman Melville, o autor da redação é um mistério que aos poucos vai se revelando durante o andamento do filme. Esse elemento tão importante para a trama é embalado pelo som da chuva e das ondas quebrando na praia que acompanham o simbolismo do título e somam a atmosfera do filme hora se tornando mais intensa ou menos intensa.
Dessa forma o mais novo filme de Darren Aronofsky beira a perfeição técnica inserindo um caráter teatral bastante medido e controlado. Personagens entram e saem de tela como em uma peça, enriquecendo aquele pequeno cenário e preenchendo as camadas narrativas que acompanhamos. A direção de Aronofsky extrai o máximo daquele pequeno universo onde Charlie (Brendan Fraser) vive. Um universo de conformidade e melancolia.
O ponto de maior destaque tão evidenciado nos materiais promocionais não poderia ser diferente, Brendan Fraser como Charlie é o grande retorno do ator aos holofotes além de ser o melhor papel de sua carreira. Fraser definitivamente se prova como um excelente ator, sua atuação entrega empatia, melancolia e culpa. O trabalho de maquiagem compõe o personagem entregando um resultado impressionante. É impossível não sentir o impacto em cada cena onde Charlie está presente. O que torna essa experiência de acompanhar o filme extremamente sensível e arrebatadora. Compondo o elenco, temos Sadie Sink como Ellie, a filha de Charlie, Hong Chau como Liz e única amiga de Charlie e Ty Simpkins como Thomas, um personagem com forte vínculo religioso e que tenta redimir Charlie pela Bíblia. Todos os personagens são extremamente interessantes e seus atores possuem uma forte entrega em seus respectivos papéis, mérito de como Aronofsky os guia e extrai o melhor resultado possível.
A dor vinda do apego aos dramas materiais parece ser o principal tópico de discussão em A Baleia, todos os personagens estão presos “ à carne ”. Charlie não consegue se livrar da culpa de ter abandonado sua filha e o trauma do luto que carrega sendo o responsável por sua obesidade mórbida, Ellie não consegue perdoar o pai e devido a esse trauma enxerga o pior nas pessoas e Liz sente que é a única que pode ajudar Charlie. A jornada que o roteiro de Samuel D. Hunter propõe é a redenção e o desapego dessas dores que conduzirá os personagens a uma elevação quase que espiritual. Esse tema é evidenciado pelo principal paralelo religioso que o roteiro apresenta. O desprendimento da carne é o que trará paz para os personagens como cita uma passagem religiosa em determinado momento e isso pode ser interpretado de várias maneiras nos arcos principais de cada personagem. É de uma riqueza narrativa ímpar que torna essa experiência bastante profunda assim como arrebatadora.
O personagem Charlie fala a respeito de ser autêntico para seus alunos online. Essa é sua principal crença, a autenticidade. É o que ele busca ensinar nas redações que propõe e corrige, e essa autenticidade é o que ele enxerga em sua filha e que se torna o elo que o mantém vivo e acreditando no potencial da mesma. Autenticidade também é o que guia Darren Aronofsky aqui. Seu filme é mais do que técnica, um roteiro bem conduzido, seu filme é uma experiência rica e poderosa. Aquele tipo de experiência cinematográfica marcante o bastante para continuar viva durante um bom tempo.
Nota: 9,5/10