Nos minutos iniciais de Aquaman 2: O Reino Perdido, temos uma recapitulação bastante didática dos principais eventos do primeiro filme, e isso já dita muito do entretenimento expositivo e sem riscos que será oferecido. A começar por estarmos diante de uma sequência que apenas reaproveita elementos já estabelecidos no primeiro filme, e as escassas novidades, como o fato de Aquaman (Jason Momoa) agora ser um pai, não têm serventia para aprofundar qualquer arco narrativo ou entregar alguma mudança mais relevante. No filme anterior, tínhamos a busca do herói por um tridente de um Rei antigo; agora, temos a busca do vilão por um tridente de um Rei antigo do mal.
Como podem ver, a sequência busca entregar um “rosto familiar” e não busca ousar muito no entretenimento que oferece. Talvez o elemento mais ousado esteja nas mirabolantes autorreferências que James Wan faz em diversos momentos do filme. O vilão Arraia Negra é tentado por um Rei do Mal que nada mais é que o Sauron do Senhor dos Anéis; ele até protagoniza cenas brigando com o próprio reflexo como se fosse uma espécie de Gollum. O mesmo Arraia tem um esconderijo mirabolante cheia de capangas em uniformes estilizados, como se ele tivesse saído de 007 – O Espião Que Me Amava ou de algum filme do Austin Powers. Em outros momentos, Arthur e Orm acabam em uma ilha e têm que lidar com insetos gigantes em momentos que evocam King Kong. E em outra passagem, Arthur precisa conversar com um líder do submundo do crime aquático que é o Jabba The Hutt de Star Wars, incluindo uma orquestra de seres músicos. Nesses momentos, Aquaman 2: O Reino Perdido é quase uma daquelas paródias como Todo Mundo Em Pânico, mas com um alto orçamento. Não dá para dizer que não é divertido…
James Wan já abraçava o brega no filme anterior, e aqui ele vai mais fundo nisso. Os personagens posam em tela; temos zooms dramáticos e trilhas sonoras que estremecem tudo. Eles usam seus codinomes de super-herói e super-vilões sem vergonha de soarem ridículos. Os capangas de Arraia Negra se comportam da maneira mais caricata possível, apertando os botões de seu submarino como se estivessem na série de Star Trek dos anos 60. Esses elementos são bregas, bobos, mas funcionam em toda essa composição do universo que Wan criou para o Aquaman nas telas, e digo mais, esse tipo de coisa falta na maioria dos filmes de super-herói dessaturados e realistas que enchem o cinema. Esse filme tem personalidade, vida própria. Se a narrativa não tem muita profundidade a oferecer, os cenários grandiosos, a criatividade nos veículos dos heróis e vilões, armaduras e exércitos do mal divertem e preenchem a tela. Sem falar na pancadaria de peso, bem filmada e bem iluminada. Isso justifica um entretenimento grande em uma sala de cinema, e talvez esse seja o maior valor que a sequência de Aquaman tenha a entregar. Qualquer outro diretor no lugar de James Wan não conseguiria fazer o mesmo, e isso demonstra seu valor na direção.
Nessa breguice toda, só o Jason Momoa não sai ganhando. Ele está mais exagerado do que nunca, e seu caráter cômico nem sempre funciona; é mais um palhaço do que um super-herói. Não que o roteiro o enxergue como um homem que agora é pai e rei, mas Momoa não oferece uma construção coerente, e isso atrapalha nos raros momentos em que ele precisa se levar um pouco mais a sério. Por outro lado, Patrick Wilson parece o Flash Gordon, talvez intencionalmente? Ele é mais coerente na interpretação de seu personagem e é um herói clássico em tela; sua dinâmica com Momoa rende os melhores momentos de humor do filme. Yahya Abdul-Mateen II, como Arraia Negra, já era o melhor vilão do primeiro filme, e aqui ele tem o destaque merecido. O visual de seu personagem é sensacional, o elemento mais memorável e impactante do longa, quase como um desenho animado vivo que convence. Ele também é o melhor ator do filme e sabe as escolhas que deve fazer para construir uma atuação coerente. Como é bom ver um supervilão malvado por natureza de vez em quando e não aquela falsa complexidade que alguns outros filmes entregam do vilão “bonzinho”. Mais um acerto para Wan.
Não que isso importe muito para o filme, mas Aquaman 2 passou por diversas mudanças de gestão da Warner Bros e representa o fim do Universo Estendido da editora antes do reboot comandado por James Gunn que virá em forma do vindouro filme Superman: Legacy. Então, é como se fosse um filme descarte. James Wan, em meio a todas essas bagunças, procurou fechar o filme em seu próprio universo e entregar, como eu disse antes, um filme sem risco e que entretém. Diante de tudo isso, é até louvável ver como a sequência é bem acabada esteticamente, visto o passado da empresa com Flash e Liga da Justiça de 2017. É um filme honesto e melhor do que poderia ser dadas as suas condições externas, não que isso resulte em um clássico do cinema de super-heróis…
Descanse em paz, DCEU. 2013 – 2023.
Crítica/Review
Aquaman 2: O Reino Perdido
Breguice e cores em um entretenimento sem riscos e honesto.
PRÓS
- Direção de James Wan
CONTRAS
- Fim do DCEU
- Diversas mudanças durante a produção do filme
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