Nos créditos iniciais de Duna a primeira coisa que chama atenção é o título “Duna – Parte um” , afinal, em nenhum momento o marketing do filme usou tal título. Porém, não há título melhor para definir o mais novo filme de Denis Villeneuve, a adaptação homônima do livro de Frank Herbert:
Em Duna, Paul Atreides é um jovem brilhante, dono de um destino além de sua compreensão. Ele deve viajar para o planeta mais perigoso do universo para garantir o futuro de seu povo.
Para um entusiasta – como eu – que nunca leu o livro de Herbert ou assistiu a adaptação de David Lynch, Duna cumpre seu papel de ser um bom filme. Uma introdução a um mundo muito rico e ainda dando atenção necessária a seus personagens centrais. De muitas formas, o Duna de Villeneuve é um blockbuster muito acima da média, como ele mesmo já havia feito anteriormente com Blade Runner 2049 e A Chegada. Duna é um sci-fi épico com uma escala gigantesca, com visuais que impressionam e arrepiam, uma cinematografia que enche os olhos. Em resumo, um dos longas mais marcantes desse ano. Porém, ele tem seus problemas. Vamos por partes:
Em termos técnicos, o filme é sim impecável. Dennis Villeneuve é indiscutivelmente um dos melhores cineastas dessa direção, os visuais, a maneira como ele filma é o tipo de experiência imersiva e marcante. Como diretor talvez esse seja o melhor trabalho de sua carreira e nesses sentidos, Duna é um filme que deixa sua marca em todos que o assistem. Complementando a incrível direção temos a trilha sonora de Hans Zimmers que cumpre seu propósito com faixas grandiosas que elevam o incrível trabalho do diretor de fotografia, Greig Fraser.
No elenco estelar temos Timothée Chalamet com uma atuação sólida entregando o que precisa ser entregue, inocência, carisma e representando muito bem o crescimento de seu personagem, Paul Atreides. Rebecca Ferguson como Jessica Atreides é uma personagem interessantíssima e com uma mitologia por trás que merecia mais tempo de tela, ainda sim, sua atuação cumpre o propósito. Oscar Isaac como Leto Atreides é outro destaque trazendo uma atuação forte, ainda que seu personagem talvez merecesse mais tempo de tela. Outro que padece desse mal é Josh Brolin como Gurney Hall, um personagem bastante simples com uma conclusão decepcionante. Dave Bautista entrega um brutamontes pouco memorável reservando todo o destaque para Stellan Skarsgard que respira influências a Marlon Brando em Apocalypse Now. Outros que merecem destaque são Jason Momoa, Javier Bardem e Zendaya que mesmo com papéis menores são personagens bastante marcantes.
Os problemas, porém, se reservam ao roteiro e a duração do filme. Embora o roteiro consiga equilibrar muito bem a jornada de Paul e a exposição e explicações da mitologia como o universo que emergimos funciona, o longa tem cara de uma história incompleta. Justificando o título inicial “Duna – Parte um”, mas deixando um gosto um tanto amargo no espectador. Dentre os defeitos ainda reservados para o roteiro, não existe espaço para que conheçamos mais dos antagonistas o que é um grande problema para sentir a ameaça ou entender mais de suas motivações, isso os enfraquece além de torná-los bastante caricatos e unidimensionais dentro de uma história que a primeiro momento parecia tão complexa.
Há muito o que poderia ser adicionado no filme seja na política que soa artificial, em certos personagens e situações ficando claro que uma duração maior pudesse tornar muitos elementos mais bem trabalhados. Enfim, vamos ao maior problema de “Duna – Parte um” sua conclusão anti-climática. É compreensível a intenção de ter uma obra como essa ser dividida em duas partes, mas o problema aqui é não ter uma conclusão orgânica “ Para onde essa história me levou? “ , “ o que o filme queria me contar? ” são o tipo de pergunta que se fica ao final da projeção. Temos uma jornada de herói interrompida pela metade que faz o filme soar como um longo primeiro ato. Um épico visual interrompido pela metade.
Duna é um longa que depende muito de uma parte 2 o que talvez interfira em sua experiência como um todo, nos entregando um épico imperfeito. Temos um espetáculo visual, sensorial até, porém, com um final amargo. Ainda sim, estamos diante de uma história promissora e de uma experiência cinematográfica que vale a pena ser conferida.
Nota: 7/10