É difícil imaginar “Ferrari“, dirigido por Michael Mann, sem Adam Driver. É como imaginar Gran Torino sem Clint Eastwood ou De Volta Para o Futuro sem Michael J. Fox, não que eu considere esse último filme de Michael Mann algo no nível desses dois exemplos citados, mas é porque, na minha humilde opinião, esse filme dificilmente iria funcionar sem Driver ou sequer ter o impacto semelhante que tem com a presença desse ator em tela. É um casamento perfeito. Adam Driver insere uma energia masculina clássica em seu Enzo Ferrari, é como se ele fosse uma espécie de Eastwood ou Steve McQueen. Seu modo meticuloso, trejeitos específicos, postura imponente e a voz grave criam uma presença que preenche as cenas de forma hipnótica e também constroem um retrato praticamente mítico do personagem real. E embora exista esse status mítico na atuação de Driver, ele encontra um equilíbrio extremamente interessante na fragilidade daquele homem meticuloso, multifacetando-o em um personagem complexo e mítico ao mesmo tempo. Parece contraditório, mas é o que guia toda a experiência de Ferrari, e se você não embarcar nisso que está sendo proposto, talvez o filme dificilmente irá funcionar para você. Com Driver, como eu disse, o filme funciona, mas com a adição de Penélope Cruz, ele cresce um pouco mais. Sua personagem, Laura, possui o maior potencial dramático da narrativa e, como é uma atriz talentosa, Penélope consegue entregar todo esse potencial em suas cenas. É o tipo de interpretação forte que torna sua personagem crível e a química com Driver potencializa esses momentos. Se o filme fosse apenas os dois dividindo o maior tempo de cenas possível, já valeria a pena.
Outro aspecto que torna Ferrari muito interessante é a escolha pouco usual que sua narrativa faz dentro do subgênero de cinebiografias. Em vez de nos apresentar um clássico início, auge e queda na vida de Enzo Ferrari, o filme escolhe um momento específico da vida dessa figura histórica e as coisas se desenrolam a partir daí. Na história, durante o verão de 1957, a falência paira sobre a empresa que Enzo Ferrari e sua esposa Laura construíram dez anos antes. Ele decide apostar tudo na icônica Mille Miglia, uma corrida automobilística de longa distância pela Itália, dando origem ao conceito da Fórmula 1. É um recorte histórico interessante e que a narrativa domina sem deixar a desejar, focando principalmente nos problemas conjugais de Enzo, dividido entre duas mulheres. E é até irônico como esses dramas mais mundanos são mais instigantes do que qualquer pano de fundo automobilístico que o filme apresenta.
Falando sobre o automobilismo em si, para mim, essa é a maior fraqueza do filme. As sequências de corrida e, principalmente, dos acidentes automobilísticos possuem escolhas estéticas incompreensíveis, ultrapassando a barreira do artificial e chegando ao cômico. Uma em específico, durante a sequência posterior à origem da fotografia e a reportagem “O Beijo da Morte“, retratando a tragédia de Alfonso de Portago (interpretado muito bem por Gabriel Leone, é sempre bacana ver um irmão brasileiro em tela), beira ao ridículo. O impacto dá lugar apenas ao choque de como as decisões técnicas sabotaram uma sequência que possuía um potencial tremendo. Certamente é um dos piores usos de efeitos especiais que já presenciei em uma tela de cinema.
Existem ainda outros pormenores em “Ferrari“, como Shailene Woodley, que não poderia soar menos expressiva dentro de seu papel. Não é um filme perfeito, longe disso, mas há decisões muito interessantes aqui, como o recorte histórico e a própria narrativa. Embora, novamente, o grande mérito desse filme esteja nas escalações de Adam Driver e Penélope Cruz, que, por si só, já fazem valer a experiência na tela grande. Talvez eles tornem “Ferrari” um filme mais memorável do que realmente é? Talvez, mas verdade seja dita, o caminho traçado aqui é bem mais atraente que o modelo padrão cinebiografias.
Crítica/Review
Ferrari
"Ferrari" dita um caminho muito mais atraente dentro das cinebiografias. Enquanto Adam Driver constrói um Enzo Ferrari hipnótico, mítico e, ao mesmo tempo, multifacetado, Penélope Cruz explora todo o potencial dramático da narrativa. Ambos tornam essa conferida na tela grande imperdível.
PRÓS
- As excelentes performances de Adam Driver e Penélope Cruz
- O recorte histórico escolhido pela narrativa
CONTRAS
- A artificialidade nas sequências de corrida
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