Herói de Sangue (Tirailleurs no original) é um filme de guerra francês que parte de uma rica premissa ao retratar um episódio esquecido durante a Primeira Guerra Mundial e ao mesmo tempo explorar temas anti-guerra, desigualdades e colonialismo. Temos Mathieu Vadepied na direção e o ator Omar Sy que estrelou produções bastante elogiadas como Intocáveis e a série Lupin da Netflix, como protagonista. O potencial existe é possivelmente um dos fatores que fez o longa chamar atenção em seu país de origem se tornando uma das maiores bilheterias do ano por lá. No entanto, o resultado do filme não poderia se provar mais decepcionante.
Na trama, durante a Primeira Guerra Mundial, um pai se alista no exército francês para ficar com seu filho de 17 anos que foi recrutado contra sua vontade. Enviados para o front, eles se encontram enfrentando a guerra juntos na colônia francesa do Senegal.
Omar Sy que estrela o filme e interpreta o personagem Bakary Diallo tem uma boa performance. Sua atuação é carregada de emoção e presença. Um dos alicerces que sustentam a experiência dramática proposta pelo filme, mas até mesmo ele é prejudicado pela montagem problemática e pela direção pouco inspirada de Mathieu Vadepied. As escolhas técnicas por trás do longa são bastante infelizes. Começando pelas cores mais densas e frias, uma característica comum dentro do gênero de filmes de guerra, no entanto, o uso das sombras e da pouca iluminação não é bem trabalhada aqui causando uma confusão visual que marca presença em diversos momentos chave. A montagem de Xavier Sirven falha ao conectar uma cena à outra, a imprimir ritmo em cenas mais dramáticas e apresenta cortes abruptos e amadores que passam longe de parecerem uma mera escolha artística. Esses problemas de decupagem afetam principalmente o início do filme onde somos apresentados a Bakary e seu filho Thierno (Alassane Diong) em uma situação cotidiana que é secamente cortada e acelerada até os eventos que dão andamento a trama. Esse inicio é afetado por cortes abruptos com o propósito de uma economia narrativa que somente atrapalha qualquer construção emocional que essa relação poderia render e qualquer contextualização acerca dos seus personagens e seu universo particular.
Na parte da direção, Mathieu Vadepied falha ao extrair as facetas mais dramáticas que os atores principais poderiam render. Alassane Diong , por exemplo, não consegue atingir o potencial de seu papel e a jornada que o personagem passa, primeiramente sendo arrastado para a guerra contra sua própria vontade e depois acabar abraçando seu novo papel e consequentemente se distanciando de sua própria identidade, é afetada por essas escolhas. A falta de uma direção mais inspirada e com mais visão é nítida nesses momentos, atrapalhando o desenvolvimento que o personagem pede e a direção que o ator poderia seguir. Esses erros não se limitam apenas na direção dos atores, eles também respingam para as cenas que se propõem a retratar os horrores da guerra que circulam os personagens o tempo inteiro. A noção espacial das cenas, as trincheiras, para onde os personagens devem ir e retornar, é tudo bastante confuso e mal organizado. Ainda que a proposta seja uma trama mais intimista ambientada nessa guerra, as cenas falham em retratar qualquer elemento de drama ou tensão que o roteiro levanta nessas situações.
O roteiro escrito por Olivier Demangel apresenta todo o potencial já citado acima, os conflitos, o drama e a mensagem poderosa. Mas as escolhas técnicas minaram a chance dessa história ganhar vida de uma maneira mais convincente e técnica, abrindo furos, lacunas e criando essa incoerência que assombra o longa a todo momento.
Os temas apresentados são o que impedem o saldo final do filme de beirar a negatividade completa. Afinal, as discussões acerca do colonialismo e de uma perda de identidade própria a prol de uma guerra são discussões atemporais e sempre válidas principalmente dentro do gênero de guerra. Esses temas na medida do possível conseguem ser expostos de maneira eficaz em tela e ao lado da atuação de Omar Sy, talvez seja motivo o suficiente para conferir o filme.
Nota: 4,0/10
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