Indiana Jones e a Relíquia do Destino é a quinta parte da icônica franquia e marca o segundo retorno contemporâneo do Harrison Ford no papel principal. Pela primeira vez com a ausência de Steven Spielberg na direção. Sai Spielberg, entra James Mangold e temos nossa quinta parte. Existe um certo receio ao redor do filme principalmente pela parte anterior, O Reino da Caveira de Cristal (lançado em 2008), ter sido um filme tão inferior em comparação a trilogia original e também pelo senso de conclusão que o personagem de Indiana Jones parecia ter atingido. Junte isso a idade avançada de Ford no papel principal, e a desconfiança em relação a quinta parte não poderia ser maior… no entanto, é um alívio confirmar que o filme apesar dos pesares entrega uma boa aventura. Mas não está completamente isento de alguns deslizes…
Tirando o “elefante da sala” a direção de James Mangold não tenta emular o trabalho que Steven Spielberg fez anteriormente, embora preste uma pequena homenagem ou outra usando as características icônicas do diretor como as luzes refletindo no rosto dos atores, os travellings, os zooms e distorções de câmera. Sua escolha na direção já se distancia dos filmes anteriores ao optar por usar uma iluminação mais dramática, empregando no filme um uso de sombras que o acompanha o filme o tempo inteiro. Essa opção encontra bons momentos na longa sequência de abertura do filme e no terceiro ato, mas nem sempre se encaixa no senso de aventura que o filme propõe. Mangold parece mais interessado em entregar um filme sombrio, introspectivo de jornada interna aos moldes de Logan, mas o roteiro não parece querer a mesma coisa.
Harrison Ford, por outro lado, parece ter tido outra experiência muito divertida no set. Embora suas limitações físicas fiquem bem evidentes em diversos momentos, o ator parece cheio de energia. O carisma que Ford parecia ter perdido em últimos trabalhos retorna em seu icônico papel, tornando sua interpretação aqui um dos pontos mais altos do filme. No entanto, nem todo potencial é aproveitado. O roteiro assinado pelo trio Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e o próprio James Mangold, apresentando um conflito interno dramático para o personagem do Indiana que poderia adicionar uma faceta ainda mais humana ao mesmo tempo que seria algo inédito dentro dos cinco filmes. Existe uma passagem em específica bastante feliz nesse aspecto onde Indy tem um diálogo com a personagem da atriz Phoebe Waller-Bridge onde revela a angústia causada por esse conflito. Ford entrega o drama na cena apenas reforçando que o filme poderia ter encontrado um saldo mais positivo e marcante se apostasse mais em momentos assim ou se sequer explorasse essa jornada inteira do protagonista durante o resto do filme.
Ainda dentro do que envolve Harrison Ford, a idade e vulnerabilidade de Jones também é algo que o roteiro e a direção sequer exploram. Afinal, o ator e o personagem beiram os oitenta anos, e é pouco crível as sequências de ação que o personagem se envolve, os socos e chutes que ele desfere e aguenta receber de inimigos três vezes maiores, os saltos de um carro para o outro e por aí vai. É onde o CGI entra para compensar as limitações do ator e o resultado da ação soa muito falso e plástico. O roteiro assinado pelo trio poderia ter sido mais feliz ao explorar a ação de maneira diferente com o personagem, o colocando em um papel de mentor ou não o envolvendo diretamente em cenas de ação tão extremas. Explorar a velhice de Jones poderia ser justamente o ponto alto da aventura e o fator inédito para justificar o quinto filme…
Dito isso, a sequência inicial tão comentada pelos materiais de divulgação que se ambienta no passado do personagem, é onde entram os efeitos especiais para rejuvenescer Harrison Ford, e é um ponto alto. Todo esse momento consegue capturar muito do espírito presente na trilogia original, é uma sequência de ação empolgante e de tensão crescente. O CGI responsável por rejuvenescer Ford impressiona em diversos momentos, mostrando como essa tecnologia está em constante evolução. Mas ainda não está perfeita, as microexpressões ainda soam pouco convenientes e em alguns ângulos, o uso dos efeitos especiais é notável, mas nada que comprometa muito.
Phoebe Waller-Bridge como Helena Shaw tem uma dinâmica que funciona com o Indy além de sua personagem carregar bastante carisma, embora suas motivações e o texto não entreguem tanto. Mads Mikkelsen aqui interpreta um tipo de papel que já é recorrente em sua carreira quando se trata de filmes blockbusters, o vilão genérico que está longe de explorar o potencial do ator. O background ao redor do vilão que envolve discussões a respeito da famosa Operação Paperclip (onde o governo americano empregou cientistas nazistas para ajudarem a construir seu programa espacial durante a Guerra Fria), é bastante rico e interessante, bem como toda a ambientação sessentista. Mas falta força no vilão, falta motivação e uma presença mais marcante em tela. Em determinado momento as coincidências do roteiro e o papel que ele vai desempenhando se torna cada vez mais desinteressante até a chegada do terceiro ato onde é eliminada qualquer chance do vilão se destacar.
Antonio Banderas está no filme, ele interpreta um antigo amigo de Indy que é capitão de barcos e mal tem diálogos ou presença. Sua participação tem serventia apenas para um momento chave. John Rhys-Davies reprisa seu papel de Sallah e seus momentos em tela são interessantes. Boyd Holbrook também está no filme, mas ele não tem muito o que fazer além de ser um capanga recorrente.
Indiana Jones e a Relíquia do Destino tem esse potencial que o roteiro ameaça tocar. Seja no citado potencial dramático ao redor de Indy e sua idade avançada, as discussões propostas pelo vilão ou um interesse que o filme parece ter em um frescor para a franquia, uma aposta diferente para essa parte final da série. Nada disso consegue ser atingido, mas ainda há um senso de aventura e diversão que Harrison Ford e James Mangold entregam.
Se existe uma reflexão ao fim da projeção do filme é que Indiana Jones merece uma aposentadoria após tantas aventuras. Merece mais do que nunca…
Nota: 6,5/10