“A Chama de Ember” é uma obra da romancista norte-americana Colleen Houck, conhecida por suas duas séries best-sellers no The New York Times: a “Saga do Tigre” e a série “Deuses do Egito”. Essas sagas, juntas, já alcançaram a marca de mais de 200 milhões de exemplares vendidos mundialmente, com mais de 700 mil dessas vendas apenas no Brasil.
A obra foi publicada em 2018, mas chegou ao Brasil em 2019 pela editora Arqueiro com a tradução de Ana Ban. O livro é uma edição de volume único, sendo assim, é uma excelente oportunidade para explorar a escrita da autora.
Sobre Colleen Houck
Colleen Houck é uma ávida leitora, apaixonada por livros de ação, aventura, temáticas paranormais, ficção científica e romance. Nasceu em Tucson, Arizona, em 3 de outubro de 1969, nos Estados Unidos. Formou-se na Universidade do Arizona e atuou como intérprete de língua de sinais por 17 anos. Atualmente, vive em Salem, Oregon, com seu marido e uma vasta coleção de tigres de pelúcia.
Seu primeiro livro, “A Maldição do Tigre”, rapidamente alcançou sucesso de vendas, sendo traduzido para 21 países e tendo seus direitos cinematográficos adquiridos pela Paramount Pictures.
Sinopse: Inspirações do Dia das Bruxas
O livro narra a história de Jack, um jovem que, há quinhentos anos, foi enganado e acabou fazendo um pacto com o demônio. Como resultado, uma maldição o transformou em um lanterna, uma criatura nem morta nem viva, com sua alma aprisionada dentro de uma abóbora. Assim, sua missão passa a ser vigiar as encruzilhadas, que são portais para o reino imortal, assegurando que nenhuma alma se infiltre onde não deveria.
No entanto, um dia, o solitário Jack percebe a presença de uma pequena bruxa, a bela Ember O’Dare, que havia ficado órfã e estava sendo criada pela sua tia-avó. Em vez de cumprir sua obrigação, Jack decide não denunciar a bruxa e passa a segui-la silenciosamente por alguns anos. A jovem sente a presença de Jack e, sabendo que ele é uma criatura sobrenatural que não lhe fará mal, deduz que ele deve ser algum tipo de guardião.
Ember, ignorando os avisos de Jack, começa a arquitetar maneiras de enganá-lo para atravessar o portal. Eventualmente, com a ajuda de um vampiro, ela consegue entrar nesse local, dando início a uma aventura em um mundo tão fascinante quanto perigoso. Assim, Jack se vê na responsabilidade de resgatar Ember antes que a interação entre os dois universos provoque um colapso.
“A Chama de Ember” foi inspirada no folclore do Dia das Bruxas, fazendo referência particularmente à “Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” ou à “Lenda de Sleepy Hollow“, um mito que deu origem à tradição de esculpir rostos em abóboras. Na versão de Houck, Jack assume o papel do Cavaleiro sem Cabeça.
Um universo altamente rico
“A Chama de Ember” apresenta um universo extremamente rico, abrangendo tanto o mundo terreno quanto o mundo além das encruzilhadas, conhecido pelos personagens como Outro Mundo. Especificamente, o mundo imortal captura a atenção do leitor devido à sua avançada tecnologia, que, embora faça analogias a elementos existentes na realidade, não se encontra no universo de Ember, pois o seu mundo é menos desenvolvido tecnologicamente em comparação com o Outro Mundo.
O livro também apresenta uma variedade de criaturas, incluindo vampiros, trolls, o bicho-papão e lobisomens. Esses elementos contribuem para criar um ambiente mágico, mitológico e sobrenatural, evocando uma atmosfera típica do Dia das Bruxas.
A narrativa em terceira pessoa, focada em Jack, enriquece as descrições detalhadas e as cenas vívidas do universo, tornando a obra notável e a leitura bastante fluída.
É importante destacar também que as reviravoltas no livro foram muito bem planejadas e surpreendentes, especialmente aquelas resultantes das ações de certos personagens, um aspecto que a autora executou com maestria. Além disso, o final é impactante e certamente deixará o leitor impressionado.
Por fim, embora a história contenha muitos personagens, cada um tem características distintas e específicas, facilitando para o leitor compreender e seguir o enredo.
Personagens questionáveis
Mesmo que “A Chama de Ember” tenha um universo bem elaborado, a obra pode frustrar alguns leitores devido a falhas no desenvolvimento de certos personagens. Esses problemas não refletem a habilidade geral da autora, mas sim erros pontuais que poderiam ter sido prevenidos.
Ember e Jack
Em primeira análise, Ember, a personagem que dá nome ao livro, apresenta uma personalidade bastante irritante e alguns comportamentos desnecessários ao longo da obra. Ainda que seja compreensível que Ember, aos 17 anos, exiba atitudes de uma adolescente, certas ações suas são difíceis de aceitar para o leitor. Assim, essa personagem, que está no cerne do enredo, acaba por tornar a história cansativa.
Além disso, apesar de descreverem Ember como uma bruxa poderosa ao longo da trama, não exploraram suficientemente seus poderes e habilidades. Como resultado, a personagem acaba ficando à mercê de outras figuras da história, o que diminui o seu impacto no enredo.
Outro personagem cujo desenvolvimento é problemático em certos aspectos é Jack, essencial para o desenrolar da trama. Em diversas ocasiões, ele age com excessiva autoridade, adotando uma postura superprotetora e tratando a jovem bruxa como se fosse incapaz de cuidar de si mesma.
Embora em alguns momentos do livro o leitor possa concordar que Ember parece não ter muita noção das coisas, Jack, consideravelmente mais velho e com anos de experiência de vida, deveria adotar uma abordagem mais branda. Isso permitiria a Ember a chance de amadurecer e explorar melhor seus poderes.
Mesmo com esses aspectos negativos, particularmente marcantes no início da obra, Jack é um personagem que experimenta um desdobramento significativo. Uma vez que ele evita se tornar detestável na trama, graças à sua lealdade e comportamento calmo, alinhando-se com a personalidade de um herói.
No entanto, isso não elimina o fato de que as ações do lanterna em relação a Ember pode ser estressante para o leitor, e que, em comparação com a bruxa, seu desenvolvimento parece mais acentuado. Isso pode parecer incoerente, considerando que, embora Jack seja uma figura essencial para o livro, Ember possui a mesma relevância.
Deverell e Finney
Outros personagens também merecem destaque, como o vampiro Deverell, mais conhecido como Dev. Assim como Jack, ele apresenta obstáculos em sua personalidade, mas de forma um pouco mais agravada, pois exibe um comportamento egocêntrico e se aproveita da ingenuidade de Ember em diversas ocasiões.
Dev trata a bruxa ainda mais como uma donzela em perigo, também impedindo que ela explore suas habilidades. Apesar de suas mudanças ao longo da trama, ele é um personagem que se mostra difícil de suportar.
Por fim, a quarta figura de destaque é Finney, amigo de Ember do mundo terreno. Ele é o único personagem que, embora apoie excessivamente a jovem ao ponto de permitir que ela cometa erros graves, parece respeitá-la e compreender que ela possui dons surpreendentes que merecem ser compreendidos. Dessa forma, ele atua como um parceiro leal e fiel.
Entretanto, comparado a Jack e Dev, Finney parece ter um papel menos significativo no quarteto.
Um romance sufocante
Essas quatro figuras do livro “A Chama de Ember” compõem um quadrilátero amoroso que, devido aos fatores mencionados anteriormente, torna a narrativa bastante desgastante. O único personagem que genuinamente apoia Ember, Finney, aparenta não ter nenhuma chance em comparação com os outros dois. Já Jack e, sobretudo, Dev disputam pela protagonista de maneira exagerada.
Além disso, a tentativa de desenvolver um romance entre quatro personagens em uma única edição, com espaço limitado e outros temas em jogo, tornou o quadrilátero amoroso pouco crível e, em alguns pontos, frustrante.
Assim, para trabalhar com mais eficácia esse romance, seria ideal que a autora abordasse com mais profundidade os diversos problemas apresentados por cada personagem ao longo de múltiplos livros. Isso evitaria a confusão do leitor quanto ao foco central da história, permitindo uma compreensão mais clara da obra.
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A Chama de Ember
A Chama de Ember é um livro de fantasia e romance com um universo bem construído, algumas reviravoltas surpreendentes e vários personagens com desenvolvimento específico que enriquecem a narrativa. No entanto, a obra decepciona devido a aspectos negativos do elenco, incluindo personagens principais, e um romance insatisfatório e mal desenvolvido para um livro de volume único.
PRÓS
- Universo bem elaborado.
CONTRAS
- Narrativa bastante desgastante.
- Disputa pela protagonista de maneira exagerada
- Falhas no desenvolvimento de certos personagens.
Detalhes
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Enredo
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Design do livro
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Descrição das cenas
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Desenvolvimento dos personagens
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Divisão dos capítulos
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Escrita da obra
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Romance