É habitual que as pessoas temam medo quando jogos e livros são adaptados para séries e filmes, devido ao risco de a obra não satisfazer o público e provocar descontentamento pela baixa qualidade. Mas será que o mesmo se aplica quando videogames são transformados em livros?
“Assassin’s Creed: Renascença“, um texto literário desenvolvido por Oliver Bowden, chegou ao Brasil em 2009. Ambientada no universo da série de videogames Assassin’s Creed, que recebeu vários prêmios e teve diversas sequências, a obra prova a sustentabilidade da franquia no mundo dos games.
A série, como um todo, alcançou a impressionante marca de mais de vinte e oito milhões de cópias vendidas, evidenciando seu enorme sucesso.
Sobre Oliver Bowden
O historiador e escritor inglês responsável por diversas adaptações literárias da série Assassin’s Creed é conhecido como Oliver Bowder, pseudônimo de Anton Gill. Nascido em 22 de outubro de 1948 na cidade de Ilford, Essex, atualmente ele reside em Paris, França.
Estudou na Chigwell School e no Clare College antes de se tornar escritor, atuando em teatros e na emissora de televisão BBC. Possui uma vasta gama de obras publicadas na área da história, tendo se especializado em História Renascentista.
Sinopse: Entre as sombras da renascença
“Assassin’s Creed: Renascença” narra a história de Ezio Auditore de Firenze, um jovem pertencente a uma família nobre e abastada de Florença, Itália. A trama começa quando Ezio tem cerca de 17 anos, por volta de 1470, período em que ele era um rapaz focado em garotas, brigas de rua e travessuras.
Entretanto, após o enigmático aprisionamento e enforcamento de seu pai e irmãos, a vida de Ezio sofre uma reviravolta, forçando-o a deixar Florença. Nesse contexto, ele inicia sua busca por respostas e promete vingar-se dos responsáveis pela traição contra sua família. Contudo, ao longo de sua jornada, Ezio descobre uma conspiração muito mais ampla por trás do assassinato daqueles que amou.
Ao longo de sua trajetória, o jovem se depara com a Ordem dos Assassinos, envolvida em um conflito contínuo e histórico com os Templários. A história do primeiro livro sobre este personagem chega ao fim quando ele atinge os 44 anos, e sua saga continua em “Assassin’s Creed: Irmandade”.
O contraste entre ficção e realidade histórica
O livro “Assassin’s Creed: Renascença” retrata a essência do período renascentista, cobrindo desde a arquitetura ao dialeto e aspectos culturais do elencos. As descrições detalhadas e a inclusão de personagens históricos, combinadas com elementos de ação e fantasia, proporcionam uma leitura rica e sofisticada.
Assim, o leitor se aprofunda nos detalhes do período histórico e interage de forma divertida com figuras da época, enquanto o livro espelha a dinâmica real de conflitos entre ideais, representada pela luta entre assassinos e templários, evidenciando a defesa de crenças até às últimas consequências.
Logo, os rivais usam o homicídio para sobreviver e atingir seus objetivos, o que cria um clima tenso e perigoso, onde a morte é vista como um mal necessário. Isso levanta questões sobre a moralidade dos personagens e se há um verdadeiro vilão ou apenas um conflito contínuo.
Mas primeiro você precisa aprender a abrir sua mente, e sempre se lembre disso: nada é verdade. Tudo é permitido.
Assassin’s Creed: Renascença; p. 99
É importante destacar que “Assassin’s Creed: Renascença” ilustra, através de seus diversos conflitos, como a verdade pode ser manipulada e utilizada como uma arma. Da mesma forma, o dinheiro e a religião têm o poder de influenciar e destruir pessoas, sem que isso necessariamente implique na morte física para enganá-las.
O protagonismo de Ezio
O amadurecimento de Ezio ao longo de “Assassin’s Creed: Renascença” é claramente perceptível para o leitor. Forçado a abandonar suas origens e enfrentar um cenário sombrio e desafiador, o protagonista passa por um intenso processo de crescimento. Assim, Ezio precisa se transformar em um guerreiro, não apenas equipado com armas eficientes e habilidades táticas e físicas, mas também dotado de maturidade emocional e resiliência.
Dessa maneira, o leitor acompanha a transformação do protagonista de um jovem audacioso em um homem dedicado a uma missão crucial. Ezio se esforça para manter sua humanidade e nobreza apesar de viver em um mundo caótico, lutando para não se parecer com seus inimigos. Embora ele também cometa atrocidades e mate várias pessoas.
Entretanto, a ênfase excessiva em Ezio acaba sendo um aspecto negativo da narrativa. Isso ocorre porque os demais personagens apresentam pouco ou nenhum desenvolvimento, parecendo existir apenas para servir ao protagonista. Tal abordagem empobrece a trama e compromete um elemento crucial da história: as motivações que levam o elenco a agir.
Adicionalmente, “Assassin’s Creed: Renascença” apresenta vários personagens secundários que, pouco desenvolvidos, aparecem brevemente ou ocasionalmente desaparecem. Assim, pode ser desafiador para o leitor situar-se na narrativa, mas, para facilitar, o livro oferece uma lista de personagens no final.
O dilema dos pequenos conflitos
Outra desvantagem são os pequenos conflitos presentes ao longo de “Assassin’s Creed: Renascença“. No contexto de um jogo, eles seriam equivalentes a missões secundárias. Contudo, a maneira como essas tramas são apresentadas no livro torna-se tediosa, visto que alguns capítulos iniciam de forma tranquila, ganham intensidade no meio e perdem força no final.
Portanto, o leitor se depara com uma série de pequenas intrigas que não se estendem por muitos capítulos, aguardando um grande clímax que se resolve de forma abrupta.
Enquanto essa estrutura faz bastante sentido em um jogo, devido à sua dinâmica distinta, ela não é eficaz em um livro, pois acaba por frustrar e não mantém o leitor engajado na narrativa. Contudo, é importante ressaltar que, à medida que a história se aproxima do fim, essa característica se altera e os capítulos tornam-se progressivamente mais cativantes.
Finalmente, apesar de “Assassin’s Creed: Renascença” ser um livro de ação e fantasia, a abundância de cenas de luta e conflito, especialmente considerando o grande número de personagens e o desenvolvimento limitado deles, pode deixar o leitor com a impressão de que algo está faltando.
Em um jogo, essa sensação pode não ser tão evidente, dada a sua natureza gráfica. No entanto, na forma de um livro, talvez fosse prudente para o autor moderar a frequência dessas inúmeras e, às vezes, repetitivas cenas de luta, apesar de reconhecer que alguns desses momentos são essenciais e sua exclusão prejudicaria a trama.
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Crítica/Review
Assassin's Creed: Renascença
"Assassin's Creed: Renascença" mescla história, ação e fantasia em um universo que captura a essência do Renascimento, oferecendo descrições ricas, críticas interessantes e um protagonista bem desenvolvido. No entanto, o livro falha ao desenvolver personagens secundários, na abordagem de certos capítulos e na repetição cansativa de algumas cenas.
PRÓS
- Descrição perfeito do período renascentista;
- Críticas interessantes;
- Bom desenvolvimento do protagonista;
- Cenas ricas e bem detalhadas de ação e fantasia.
CONTRAS
- Pouco desenvolvimento do elenco geral;
- Alguns capítulos mal trabalhados;
- Cenas repetitivas e cansativas;
- Excesso de personagens.
Detalhes
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Enredo
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Design do livro
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Desenvolvimento das cenas
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Desenvolvimento dos personagens
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Capítulos
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Escrita da obra