Desta vez o Alternativa Nerd trás a nova review de Tunche, um belíssimo beat ’em up desenvolvido pela LEAP Game Studios e publicado pela Hypertrain Digital, que se passa na floresta amazônica e que mistura de forma extremamente criativa elementos de outras jogabilidades, além de ter para nós, brasileiros e/ou latinos, este gostinho especial de algo tão próximo.
História
Tunche segue a jornada de um grupo de aprendizes de xamãs de diferentes tribos da Amazônia. Cada um deles tendo uma história por trás que é revelada aos poucos ao jogador, eles estão partindo rumo as profundezas da floresta, onde precisarão enfrentar diversos perigos para por um fim na misteriosa entidade conhecida como “Tunche” e nas criaturas demoníacas que estão perturbando a paz de sua terra.
O grupo é formado por cinco personagens únicos: Rumi, a feiticeira; Pancho, o músico; Qaru, o menino-pássaro; Nayra, a guerreira; e a “Criança de Chapéu”, do aclamado jogo A Hat in Time, que faz uma participação especial no game.
Jogabilidade
Beat ’em up, character action e roguelite. É de fato incrível como o game consegue combinar tão bem estes elementos.
Em sua base, Tunche é um clássico beat ’em up, escolha entre um grupo de personagens com atributos diferentes, jogue com até 4 pessoas e espanque tudo o que aparecer na tela enquanto progride pela história. Aos poucos, encontre também as páginas que revelam aos poucos o passado de cada personagem e também suas motivações para buscar por Tunche.
O game bebe do roguelite ao criar sessões extremamente punitivas, com inimigos fortes e pouquíssimos recursos de cura, além de caminhos diferentes que podem ser escolhidos que levam a novas “salas” com novas hordas de inimigos. Perca, e seu personagem retorna ao acampamento, porém, mantendo todos os pontos e ouro obtidos para dar upgrades em suas habilidades e consumíveis, fazendo com que a próxima rodada seja levemente mais fácil, e assim por diante, até se tornar forte o suficiente para superar um nível inteiro.
São muitas as opções, com NPCs carismáticos que oferecem diferentes tipos de melhorias, além de possuírem personalidade e trejeitos que dão vida e charme, fazendo com que se simpatize (e ria bastante) com eles.
Por fim, o elemento surpresa foi a adição do character action. Gênero que surgiu em Devil May Cry como um subgênero do hack ‘n slash, que por sua vez já era um subgênero do próprio beat ’em up, é interessante ver como tudo foi muito bem aplicado. Inicie uma sequência de combos e o game começará a contar a sua nota, desvie de ataques, varie seus golpes, crie sequências novas e mantenha a pressão e veja a nota subir, indo de D até SSS, com grandes incentivos além do estilo, que vão desde mais pontos e ouro até a ativação dos efeitos de alguns consumíveis caso se consiga manter a nota no mínimo em A por bastante tempo. Por se tratar de um game 2D, não pude deixar de compará-lo com o lendário Sengoku 3, embora, é claro, apesar do sistema de combos complexos já existisse no game, não possuía o sistema de notas que a saga de Dante criou mais tarde, e da qual Tunche se aproveita muito bem.
Os inimigos são bastante variados, começando de simples animais da floresta, como sapos, javalis e macacos, até chegar nas macabras criaturas da magia negra que está tomando a amazônia, oferencendo diferentes padrões de ataque, fraquezas e mecânicas para se acostumar, como um bom character action.
A única coisa que me pode frustar um bocado no game é a profundidade dos cenários, que para um game em 2D poderia ser menor. Muitas vezes errei ataques e perdi a subida de minha nota ou simplesmente fui atingido por não ter uma noção exata se estava ou não na frente dos inimigos. Uma complicação mínima, com a qual se acostuma depois, mas que nas primeiras horas não deixou de incomodar.
Os personagens também são muito variados, começando praticamente com os mesmos golpes, apenas com animações diferentes, PORÉM, quando se começa a atualizá-los em suas árvores de habilidades, é onde a coisa fica realmente interessante, com cada um deles se mostrando melhor em uma ou outra área, deixando o jogador a descobrir qual o seu favorito, seja pelas habilidades, seja por simpatizar e desejar aprender a usá-lo.
Rumi é a mais equilibrada, com ataque, velocidade e defesa bastante “redondos” e uma árvore de habilidades bastante robusta e segura de se jogar, com golpes pesados tanto a curta ou longa distância, mas sem se arriscar muito. Pancho é o clássico personagem pesado, mais lento, mas com muito mais vitalidade, força e golpes que atingem vários inimigos de uma vez. Qaru é um dos mais frágeis e fracos, mas compensa com muita velocidade e vários golpes aéreos. Nayra também é bastante frágil e não possui ataques tão poderosos, mas é a que possui mais alcance, tanto com sua lança quanto com a serpente que a acompanha.
Por fim, a “Criança de Chapéu” que faz uma ponta no game tem seu próprio sistema de habilidades, mas eu diria que em suma ela é tão equilibrada quanto Rumi, sendo ambas as que mais gostei de usar. Destaque para várias referências em suas ataques, como mudanças de chapéu quando utiliza magias ou esquivas. Tudo feito com bastante carinho.
Gráficos
O jogo tem um visual extremamente belo e bem polido, e não é nenhum exagero falar que ele é perfeito dentro de sua proposta. Com uma arte que lembra em muito um desenho animado ao estilo “TV Cultura” ou “Discovery Kids”, os cenários e os sprites são tão bem desenhados, iluminados e animados, que simplesmente parecem um desenho animado. Você simplesmente não consegue perceber o intervalo entre uma imagem em outra, trazendo uma animação tão fluída e com uma resolução tão alta como visto no extremamente elogiado e premiado Skullgirls.
A caracterização dos personagens é outro ponto forte, reforçando bastante as diferentes tribos das quais cada um pertence, não apenas pelos seus nomes, mas pelas vestes e pinturas, além de possuírem uma identidade visual muito forte, passando completamente longe do genérico.
Música
Tunche é completamente ambiental, e faz isso muito bem. Cada música trás um pedacinho da Amazônia para o jogador, com temas bastante tribais e profundos, combinando sempre com o humor e o tema de cada sessão do game. Mesmo as músicas de derrota, progressão, etc, conseguem ao mesmo tempo passar o tom que um videogame precisa ao mesmo tempo que mantêm raízes tribais.
Considerações finais
Tunche é um game que consegue cumprir tudo o que se propôs à fazer. Desde ir do clássico beat ’em up até oferecer uma desafiante experiência character action, e é claro, trabalhando muito bem seus elementos de roguelite, sempre deixando aquele gostinho de “só mais uma rodada, dessa vez eu consigo passar!”
A temática amazônica, os personagens carismáticos e o trabalho visual impecável o tornam uma verdadeira jóia indie indispensável na biblioteca dos fãs de qualquer um dos gêneros apresentados, e algo extremamente especial para a América Latina.
Nota: 9.5/10
Sobre a LEAP Game Studios
LEAP Game Studios é uma empresa indie peruana de desenvolvimento de videogames que se identifica como criadores de experiências para diferentes plataformas e usuários.
Tunche chega em 2 de novembro para PC, consoles PlayStation, Xbox e Nintendo Switch.
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