Sete indicações de quadrinhos e uma menção honrosa
Batman é um personagem icônico com mais de 80 anos de histórias espalhadas por quadrinhos, TV e cinema. Em sua mídia original, os quadrinhos, o Cruzado Encapuzado protagonizou verdadeiros clássicos. Dentre esses clássicos já existe um clichê, um consenso de qualidade inquestionável, envolvendo três histórias: O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, Batman Ano Um também de Frank Miller e Batman: A Piada Mortal de Alan Moore. Existem também outros exemplos que figuram muitas indicações como O Longo Dia das Bruxas e mais recentemente, Batman Ego. Todas essas histórias citadas possuem uma qualidade acima da média e algumas delas até desempenham uma enorme importância por redefinir o gênero de super-herói como conhecemos hoje. No entanto, além desses quadrinhos o Cruzado Encapuzado tem muitos outros dignos de serem conhecidos e essa é a proposta da lista de hoje. Sete histórias pouco comentadas, ou, se preferirem, além do clichê, que são dignas da leitura de qualquer fã do Batman!
Menção Honrosa:
O Estigma do Batman
O Estigma do Batman é uma história que fez parte de um selo chamado Real Worlds. Esse selo tinha como proposta de retratar os icônicos personagens da DC Comics em uma roupagem “real” e até mais dramática. A narrativa de Estigma do Batman gira em torno de Charlie, um homem na faixa dos trinta anos que possui necessidades especiais, e é um grande fã do Homem-Morcego. Mais especificamente, ele é um fã devoto da icônica série estrelada por Adam West e Burt Ward. A história escrita por Tom Sniegoski e com a rica arte de Marshall Rogers, aborda de maneira bastante sensível e competente temas como saúde mental e a figura do Batman no imaginário popular. Um dos pontos altos da história é como o gibi retrata a transição da imagem do Batman colorido da série do Adam West para o Batman mais sombrio de Tim Burton, impactando diretamente a narrativa proposta. O Estigma do Batman é uma reimaginação do personagem muito mais criativa e ousada do que as atuais versões malignas alternativas do personagem ou futuros distópicos pessimistas.
No Brasil, o quadrinho foi lançado pela editora Mythos.
Sem mais delongas, sete grandes histórias do Batman:
7. Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas
Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas é um arco de histórias publicado nas edições Batman #452 até Batman #454. Escrita por Peter Milligan e desenhada por Kieron Dwyer a história retrata uma faceta mais sombria e ameaçadora do vilão Charada, mas sem fugir da essência do personagem. Na trama, o Charada está envolvido com uma conspiração sobrenatural que tem raízes nas fundações de Gotham City e com o demônio Barbatos, que seria mais explorado em fases posteriores do personagem, como no período de Grant Morrison. O ponto forte nessa história está na exploração das habilidades detetivescas do Cavaleiro das Trevas que são colocadas à prova contra os obstáculos que o vilão ergue ao longo da trama. A faceta detetivesca do personagem é explorada com maior competência aqui do que em histórias mais pouplares como Batman: Silêncio ou o próprio Longo Dia das Bruxas. Com um roteiro enxuto, uma narrativa cheia de suspense e uma arte bastante inspirada essa é uma grande história para quem quer conhecer o motivo pelo qual Batman é chamado de O Maior Detetive do Mundo.
No Brasil, o quadrinho foi recentemente publicado pela editora Panini na Saga do Batman Vol.17.
6. Batman (1940) Número 47
A edição quarenta 47 foi publicada em 1948 na revista Batman. Mais uma vez, Bob Kane e Bill Finger, os criadores do personagem novamente trabalharam juntos revisitando a origem trágica de Bruce Wayne e expandindo seu mito. Essa história é chamada “A História do Batman” e pertence à Era de Ouro dos quadrinhos. Na história, Batman e Robin acabam descobrindo uma atividade criminosa chefiada por Joe Chill, o homem que assassinou os pais de Bruce Wayne. Relembrando do criminoso, Batman decide enfrentá-lo por conta própria. Até então, a única vez em que o assassinato dos Wayne havia sido mencionado nos quadrinhos foi na edição número 3 da revista Detective Comics. Porém, foi aqui que Bill Finger deu nome aos pais de Bruce e também deu nome ao assassino Joe Chill. Esses fatores, por si só, já tornam essa uma edição imperdível por sua importância histórica no cânone do personagem, mas além disso, essa é uma das melhores histórias da Era de Ouro dos quadrinhos do Batman, se não for a melhor. A premissa de colocar Bruce Wayne contra o homem que tirou a vida de seus pais é riquíssima por si só e, apesar da simplicidade do texto da época, o potencial temático da história é explorado de maneira decente.
Por curiosidade, essa história foi parcialmente adaptada no episódio 11: “Justiça Contra Vingança” da segunda temporada do desenho animado Batman: Bravos e Destemidos que está disponível na HBO Max.
5. Batman Messias
Batman: Messias é um quadrinho que retrata o Cruzado Encapuzado de uma maneira menos implacável e mais vulnerável. O roteiro escrito por Jim Starli explora o tema do fanatismo religioso na figura do vilão Diácono Blackfire e a narrativa destaca como a crença cega pode distorcer a realidade e criar perigosas divisões na sociedade. Ao confrontar esse novo mal emergindo em Gotham, Batman é derrotado, humilhado, torturado e se vê confrontado com a inabalável devoção dos seguidores do culto, forçando o herói a questionar sua própria identidade e propósito. Histórias que exploram a humanidade de Bruce Wayne sempre têm um destaque para mim e geralmente é onde vemos mais camadas sendo adicionadas ao personagem, enriquecendo sua construção ao longo das histórias em quadrinhos. No entanto, a exploração dessa vulnerabilidade não é apenas realizada pelo roteiro, mas também pela arte de Bernie Wrightson, que oferece formas humanas ricas em detalhes e expressões faciais memoráveis de dor, agonia e medo.
O Messias é um quadrinho que se destaca muito entre as demais histórias do personagem por explorar temas relevantes e sempre atuais e também por adicionar mais facetas ao mergulhar na psique e humanidade do Cavaleiro das Trevas.
No Brasil a história foi publicada pela editora Panini.
4. Batman: Gotham 1889
Batman: Gotham 1889 deu origem ao subgênero nas histórias em quadrinhos conhecido como “Elseworlds”, um subgênero que tanto a Marvel quanto a DC vêm explorando até hoje nos quadrinhos. Para o Batman, essa história foi um testemunho da criatividade e versatilidade de seu universo, simbolizando o casamento perfeito do herói sombrio com a arte rústica e gótica do gênio Mike Mignola.
O roteiro também escrito por Mignola aposta na simplicidade como os trabalhos costumeiros do roteirista, a premissa, no entanto, é rica. No século 19 os crimes de Jack, o Estripador colocam o notório assassino em rota de colisão com o Batman. A arte única dá vida a essa premissa com o traço distintivo que captura formas góticas e as mergulha em cores sutis, acentuando o contraste entre sombras e luz. É uma história em quadrinhos em que o aspecto visual ganha muito destaque, se destacando até mesmo em relação ao texto. A arte de Mike Mignola é o maior ponto positivo, definindo o tom e também tornando essa história em quadrinhos uma experiência atmosférica definitiva.
No Brasil foi publicado pela editora Panini.
3. Preto e Branco
A série de antologias “Batman: Preto e Branco” é uma verdadeira celebração ao legado do personagem. Cada história apresenta diferentes interpretações visuais e narrativas do Batman. Dentre elas, duas que merecem destaque são “Luto Perpétuo”, escrito e ilustrado por Ted McKeever, uma narrativa sensível que gira em torno do Cavaleiro das Trevas realizando uma autópsia em uma vítima de assassinato enquanto divaga em uma dança imaginária com ela, e “Noite Infeliz”, escrita por Michael Uslan e desenhada por Dave Bullock, um conto que adapta o personagem a um filme mudo dos anos 30, proporcionando uma experimentação bastante divertida e belamente ilustrada. O que torna essa série imperdível para qualquer leitor é a liberdade que os artistas têm para experimentar com diferentes estilos visuais e abordagens narrativas, todas ancoradas no contraste entre preto e branco. Cada história captura uma emoção única, explorando as camadas da psicologia do Batman, dos vilões e das vítimas. “Batman: Preto e Branco” é uma das melhores coisas já feitas com o personagem em sua história recente.
No Brasil foi publicado em formato Omnibus pela editora Panini.
2. Batman: Um Dia Ruim
Assim como Preto e Branco, Batman: Um Dia Ruim é uma série de antologias. O título que faz referência direta ao “dia ruim” do Coringa em ” Piada Mortal”, traça um paralelo com a proposta dessa série que é explorar vários supervilões do universo do Cavaleiro das Trevas ao longo das edições. Antologias são sempre um prato cheio para experimentações, Batman: Preto e Branco já era uma prova, e Um Dia Ruim se provou mais um exemplo para o gênero. Os artistas convidados emprestam sua visão particular sobre os seguintes vilões: Pinguim, Duas Caras, Bane, Cara de Barro, Charada, Mulher-Gato, Senhor Frio e Ra ‘s Al Ghul, alternando entre roteiros com estruturas diferentes e artes distintas.
Entre as minhas favoritas, destacam-se as histórias do Charada, escritas por Tom King e ilustradas por Mitch Gerads, que exploram uma faceta mais sombria do vilão, tornando-o uma figura bastante ameaçadora como na trama de “Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas“, enquanto alternam entre passado e presente com fluidez. A história do Cara de Barro, escrita por Colin Kelly e Jackson Lanzing e desenhada por Xermánico, além de explorar o vilão de maneira bastante interessante, traz comentários sobre a indústria de Hollywood ao levar o ex-ator, que se tornou vilão, diretamente para Los Angeles. Por fim, a história do Senhor Frio, escrita por Gerry Duggan e desenhada por Matteo Scalera e Dave Stewart, é um conto de Natal focado no Robin, Dick Grayson, e no vilão título. Ela explora uma faceta além do antagonista trágico e adiciona camadas vilanescas e complexas ao personagem. É uma série perfeita para se conhecer mais da rica galeria de vilões do Cavaleiro das Trevas.
No Brasil o quadrinho está sendo publicado pela editora Panini.
1. Telhados
A fase de Tom King escrevendo Batman foi repleta de altos e baixos, mas o que não se pode dizer é que não foi uma fase ousada. Indo além da aventura do mês ou de uma simples abordagem sombria, a fase de King mergulhou na faceta humana de Bruce Wayne, explorando o icônico romance com Selina Kyle, a Mulher-Gato. Além disso, Tom King tentou alterar o status quo do personagem, mostrando que Bruce Wayne pode ter um romance, ser feliz e mesmo assim continuar sendo um super-herói.
Uma das melhores histórias presentes em toda essa fase é o arco dividido em duas partes, intitulado “Telhados”. A premissa do arco explora uma última noite entre o Cavaleiro das Trevas e a Mulher-Gato. Ao final dessa noite, o Batman terá que prender a anti-heroína por um crime que ele acredita que ela não cometeu, mas que ela estranhamente se mostra disposta a se entregar. A belíssima arte de Mitch Gerads explora os tons de azul e preto, entregando cenas memoráveis, como o casal em cima de um terraço sob um céu estrelado que se assemelha a diamantes. O roteiro de Tom King brinca com elementos como as duas histórias de origem de como o casal se conheceu, “Batman Ano Um” e a “Edição Número Um da Revista Batman” (a primeira aparição oficial da anti-heroína). Além disso, explora de maneira orgânica o amor que os personagens nutrem um pelo outro, em uma história divertida e com ares poéticos.
No Brasil essa história foi publicada pela editora Panini dentro do encadernado Batman por Tom King vol.3
Além dessas, existem muitas outras grandes histórias do Batman. Quais são suas favoritas? Comentem abaixo.