A jornada de Paul Atreides, interpretado por Timothée Chalamet, pode, à primeira vista, parecer uma típica saga do herói ou do “escolhido”, revisitada inúmeras vezes por obras como Star Wars e Matrix. No entanto, à medida que a narrativa avança, desvendamos um caminho consideravelmente mais sombrio. Nestes momentos, Denis Villeneuve destaca a discussão central em Duna: a fé, o fundamentalismo, e os horrores e belezas que essas duas coisas podem desencadear. Para o vulnerável povo Freeman, a fé se torna um alicerce de propósito e esperança diante de adversidades, impulsionando a resiliência coletiva contra a exploração da especiaria em Arrakis. À medida que Paul se aproxima dos Freeman, essa relação é habilmente explorada por Lady Jessica, interpretada por Rebecca Ferguson, na construção de um Messias em Paul Atreides com potencial impacto em Arrakis e no império galáctico. A fé forjada traz vitórias aos Freeman, mas, através das habilidosas lentes de Villeneuve, também revela a corrupção e tragédia na jornada de Atreides ao se tornar o “escolhido” ou, nas palavras dos Freeman, Lisan al Gaib. Fascinantemente, Timothee, com sua atuação versátil entre tons, apresenta Paul como um lutador habilidoso, um indivíduo adaptável e estudado, mas ainda suscetível à obscuridade causada pelo culto à personalidade. Em “Duna: Parte 2“, ninguém escapa do destino moral trágico e iminente, nem mesmo aqueles que optam por não seguir o caminho de Muad’Dib.
São essas temáticas que diferenciam a sequência do primeiro filme, proporcionando uma narrativa mais envolvente em ritmo, significado e propósito. Duna: Parte 2 afasta-se do tom contemplativo do primeiro filme, adotando um estilo de blockbuster mais clássico e entregando um entretenimento mais robusto. Se o primeiro filme foi uma experiência sensorial até certo ponto, a frieza e obscuridade dos eventos limitavam esse aspecto. Nesta sequência, no entanto, a composição dos planos de Villeneuve e a escala impressionante das cenas tornam cada sequência mais memorável que a anterior, proporcionando momentos surrealmente grandiosos e empolgantes. Mesmo em confrontos menores, como o embate final entre Paul e Feyd-Rautha, interpretado por Austin Butler, a sequência é visualmente impactante, com drama atingindo seu ápice. Em uma abordagem menor, mas não menos significativa, a batalha entre os dois personagens é uma daquelas sequências magnéticas. É um conflito seco, visceral e dramático, exemplificando como o épico está presente em cada esfera desta obra.
O cinematógrafo Greig Fraser, já conhecido por seu trabalho em The Batman e Blade Runner 2049, mais uma vez colabora com Villeneuve, expandindo e aprimorando a experiência visual. Desde a sequência no planeta dos Harkonnen, onde o preto e branco se mistura com as cores e os “fogos de artifício” nos céus criam uma estética única que remete a tinta guache atingindo uma folha em branco, até os detalhes minuciosos no figurino e maquiagem, cada elemento contribui para dar vida a mundos vibrantes e magnéticos. Todos na produção parecem estar dando a vida para que o espectador, eu incluído, mergulhe profundamente naquele mundo e naquela história. No entanto, Hans Zimmer , parece o mais apaixonado de todos em sua composição musical, cujas canções dão vida ao romance entre Paul e Chani, interpretada por Zendaya, explorando o descobrimento e o amargo fim desse amor e o como ambos os momentos ditam o rumo da história. Sua trilha-sonora, menos frenética e mais melancólica, conduz o espectador por esses planos belíssimos, solidificando-se como um dos maiores trabalhos do compositor até então.
A experiência e grandiosidade de assistir Duna: Parte 2 em uma sala de cinema, por si só, já seria digna de ser vivenciada. Afinal, o que é mais essencial em um filme do que uma poderosa experiência individual? No entanto, um elemento destaca essa sequência como algo superior, tornando-o no épico do nosso tempo, como evidenciado nas discussões sobre fé e fundamentalismo apresentadas anteriormente. Não consigo recordar outro filme desse porte que tenha reservado espaço para um personagem-título com uma jornada tão complexa e dúbia. Principalmente, é raro ver um filme desse investimento abordar de maneira tão satisfatória temas profundos, como fé e fundamentalismo, como elementos de resiliência e horror. Para mim, as pontuadas sequências de Stilgar, interpretado por Javier Bardem, tornando-se cada vez mais fanático pela figura e companhia de Paul, ilustram o quão assombroso pode ser esse caráter religioso fanático. Duna: Parte 2 permite ser pontuado por esses momentos e isso precisa ser exaltado. Ao mesmo tempo em que aquele mundo pode ser magnético e empolgante, ele também pode ser dúbio, amargo e complexo. Assistir a essa obra é como mergulhar nos efeitos das especiarias; você vai vibrar e ficar extasiado pelos visuais e sequências tão elogiados neste texto. No entanto, ao final dessa “viagem alucinógena”, vai se questionar: será que o que acabei de presenciar aqui é tão diferente assim do meu próprio mundo?
E é assim que o caminho de um blockbuster deveria ser, menos montanha-russa e mais uma experiência que deixe algo a ser digerido.
Crítica/Review
Duna: Parte 2
Denis Villeneuve distancia-se do filme anterior ao proporcionar uma experiência sensorial mais frenética, conferindo a Duna: Parte 2 uma atmosfera de blockbuster clássico. Há amplo espaço para o deslumbramento, com uma escala assombrosa e gigantesca que eleva o filme ao status de épico aguardado desde sua primeira parte. Em meio a tudo isso, Villeneuve desenvolve o que mais lhe atrai nesse universo: como a fé tem o potencial de desencadear tanto belezas quanto horrores. Com tantos elementos a oferecer, Duna: Parte 2 solidifica-se como o grande épico de nosso tempo.
PRÓS
- "Duna: Parte 2" destaca-se por sua abordagem profunda de temas como fé e fundamentalismo, proporcionando uma narrativa enriquecedora.
- Elogios à cinematografia de Greig Fraser e à trilha sonora de Hans Zimmer, destacando a qualidade técnica e a capacidade do filme de criar momentos visualmente impactantes.
- Reconhecimento da obra como um épico contemporâneo que vai além do entretenimento superficial, provocando reflexões sobre a jornada do personagem e temas sociais.
CONTRAS
- A transição para um estilo de blockbuster mais clássico pode desapontar aqueles que apreciaram o tom contemplativo do primeiro filme.
Duna: Parte 2 OFERTAS
Coletamos os melhores preços das nossas lojas parceiras